Sucesso nas exportações aumenta preço do couro no mercado interno

Indústria calçadista cobra medidas do governo para baixar o preço, que já esteve em torno de R$ 35/m² e hoje está em R$ 50As exportações brasileiras de couro e pele fecharam o ano de 2013 mais uma vez no positivo. Bom para o setor produtivo de curtumes, que comemora números recordes, mas ruim para a indústria brasileira de calçados e acessórios. Na Feira Internacional de Calçados e Artefatos de Couro, a Couromoda, que acontece nesta semana em São Paulo, o que mais se vê são artigos feitos de material sintético. Um reflexo do alto preço do couro no mercado interno.

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De acordo com números divulgados pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), de janeiro a dezembro de 2013 foram exportados 497.836 mil toneladas de couro, volume 23,7% superior ao embarcado no mesmo período de 2012. Em receita, este volume foi equivalente a US$ 2,5 bilhões de dólares, aumento de 20,8% com relação a 2012. Os principais destinos foram a China, com 36,3%; Itália, com 20,5%; e Estados Unidos com 10%.

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Para o setor calçadistas, são justamente estes números que têm afastado cada vez mais o couro brasileiro da indústria de calçados e acessórios.
 
– Cerca de 80% da produção brasileira de calçados é feita de materiais laminados sintéticos e calçados de borracha, com alguma participação de materiais têxteis. Couro é algo em torno de 10% a 15%, no máximo – diz Heitor Klein, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), que tem sede em Novo Hamburgo (RS).
 
Segundo o Sindicato da Indústria de Calçados de Franca (Sindifranca), no interior de São Paulo, as exportações tiram o couro do mercado interno e elevam os preços do produto no mercado interno.
 
– O preço médio do couro é R$ 50 o metro quadrado. Poderia ser inferior, pois já esteve em torno de R$ 35. Hoje o Brasil está exportando até para nossos concorrentes – diz o presidente do Sindifranca, José Carlos Brigagão do Couto.
 
Maior consumidor de couro do Brasil, a indústria de calçados de Franca produziu 40 milhões de pares de sapatos de couro em 2013 e consumiu cerca de nove milhões de metros quadrados do produto. O setor reclama dos preços e pede medidas do governo.
 
– É preciso que a política de couro no Brasil seja revista, porque o brasileiro está pagando mais caro pelo calçado em decorrência desse preço. Já existe uma taxa de 9% para inibir essa exportação de couro, mas não é suficiente. Precisamos de um sistema de cotas de exportação.
 
Na indústria de calçados e acessórios, a demanda de couro brasileiro se concentra na indústria de calçados masculinos, que representa 21,9% da produção total de calçados. Na moda feminina, responsável por 56,7% da produção de calçados, o couro já perdeu totalmente espaço para o sintético.
 
 – Nos últimos 10 a 15 anos, devido ao preço do couro, o preço final do sapato e da bolsa de couro ficaram acima do mercado B e C e houve uma migração para o material sintético. Obviamente o couro tem apelo, mas há uma diferença de custo/beneficio. A gente consegue ser mais competitivo com o material sintético – diz Marcelo Shayeb, executivo de uma indústria de Franca.