Primeiro foi a Rússia. Na última quinta, dia 27, o país suspendeu as compras de oito plantas frigoríficas do Brasil. Em 2009, o governo russo comprou mais de US$ 900 milhões de carne bovina in natura. Foram 327 mil toneladas, o equivalente a 35% do total exportado pelo país no ano passado.
No dia seguinte, foi a vez dos Estados Unidos. O Ministério da Agricultura brasileiro suspendeu temporariamente a certificação da carne processada para aquele mercado. Isso porque as autoridades norte americanas detectaram níveis acima do tolerado do vermífugo ivermectina na carne.
Em 2009, o Brasil exportou mais de US$ 220 milhões em carne bovina ao mercado americano, o que representa 108 mil toneladas, o equivalente a 26% de carne industrializada exportada pelo Brasil. Para Paulo Mustefaga, assessor do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o governo brasileiro acertou ao suspender os embarques.
? Nós avaliamos a medida como uma decisão correta do governo brasileiro, que é uma medida de precaução, que visa rediscutir, negociar com os Estados Unidos quais são os critérios utilizados para detecção, uma vez que o Brasil utiliza os critérios que são aprovados pelos organismos internacionais de referência, que no caso é o “Codex Alimentarius”.
Nas duas situações, o Brasil já adotou medidas para tentar solucionar os impasses. O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, anunciou que vai até a Rússia para saber os reais motivos da suspensão das exportações de carne bovina. Já para os Estados Unidos, uma missão técnica do governo brasileiro tenta resolver a questão a partir da próxima segunda, dia 7.
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes, em média, o Brasil costuma exportar por dia o equivalente a US$ 2,3 milhões para o mercado russo. Em quatro dias úteis, as empresas já estariam deixando de faturar cerca de nove US$ 9,2 milhões.
Porém, o diretor executivo da entidade garante que o prejuízo não ocorre de forma imediata. Os embarques podem ser feitos mais adiante ou por meio das subsidiárias que as exportadoras mantêm em países como Argentina e Uruguai.
Para o analista de mercado César de Castro Alves, situações como estas podem prejudicar a imagem da carne brasileira no cenário internacional. Entretanto, ele não acredita que a decisão russa seja um sinal de protecionismo. O especialista alerta que Rússia vem diminuindo as importações de carne brasileira e passando a importar de outros mercados. Ele lembra que as suspensões nas exportações também influenciam no preço do boi, mesmo com o mercado estável.