Esses neurônios estão na origem de uma doença fatal que atinge cavalos Paint Horse: a aganglionose íleo-colônica. A doença é genética e afeta os movimentos peristálticos e a absorção de nutrientes no intestino dos cavalos. A doença é fatal e mata 100% dos animais logo nos primeiros dias de vida.
– A análise dos neurônios entéricos de cavalos por meio de estereologia 3D – ciência que, no nosso caso, remete ao estudo e à quantificação de partículas biológicas, os neurônios, em três dimensões – é uma importante conquista para a neurociência. Não encontramos nada semelhante na literatura nacional e internacional – disse o professor Antonio Augusto Coppi, coordenador da pesquisa e responsável pelo Laboratório de Estereologia Estocástica e Anatomia Química (LSSCA) do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP.
Utilizando um software 3D específico instalado em um microscópio adaptado para o registro da posição das células no eixo z (ou seja, na profundidade do tecido), a equipe fez a amostragem espacial tridimensional dos neurônios presentes no íleo de animais eutanasiados. O processo envolveu medições de comprimento, largura e profundidade, além de estimativas de volume, superfície e número total.
– É como olhar o mar da superfície para o fundo e observar cardumes de peixes com tamanhos e formas variadas, em diferentes profundidades – comparou Coppi.
Até recentemente, os neurônios entéricos eram estudados somente por meio de métodos bidimensionais, baseados no contorno, na área e no diâmetro dessas células, o que resultava em estimativas imprecisas em termos de número total e tamanho.
Um mal semelhante à aganglionose íleo-colônica, chamado doença de Hirschsprung, ocorre em humanos, mas sob uma forma mais branda, tratável e que atinge uma em cada 5 mil crianças.