Conhecida como Países Baixos, a Holanda tem quase metade de seu território abaixo do nível do mar. Por isso, a água está sempre presente nas paisagens urbanas e rurais. É comum encontrar antigos moinhos, que caracterizam a região; e cata-ventos, que produzem energia eólica. Contudo, as grandes estrelas da Holanda são as vacas leiteiras.
Com o objetivo respeitar as exigências ambientais, o número de animais por propriedade é limitado pelo governo. O tamanho do rebanho é definido pela quantidade de matéria orgânica produzida e o destino dado aos dejetos. Encontrar alternativas para ampliar o plantel sem prejudicar a natureza é uma das missões de estudiosos.
? Em geral, podemos dizer que as exigências ambientais estão dificultando o dia a dia dos produtores. É claro que trazem certos problemas, mas o segredo é transformar esses problemas em desafios, em novas chances de comercialização. A nossa tarefa é de procurar e explorar estas oportunidades ? ressalta o pesquisador em Pecuária da Universidade de Wageningen, em Lelystad, Harm Wemmenhove.
As pesquisas desenvolvidas no país são variadas. Vão da alimentação dos animais à transformação dos dejetos em energia, através do biogás. Um dos estudos avalia a interferência do piso dos confinamentos na saúde e produtividade das vacas leiteiras, além de medir a emissão de gases poluentes.
? A maior parte dos criadores holandeses, de 70 a 80%, alimentam o gado no pasto no verão. No inverno, os animais permanecem em estábulos. Mas os criadores estão muito interessados nesta tecnologia do piso, que limita bastante a emissão de gases malignos para a atmosfera, porque ? tanto para o bem-estar animal, como também para obedecer as leis de meio ambiente ? mais cedo ou mais tarde vamos precisar deste tipo de solução ? completa o cientista.
A tecnologia chamou a atenção do pecuarista brasileiro Carlos Malinski. Ele começou a investir na pecuária leiteira, em 2010, e ficou surpreso com os estudos direcionados ao confinamento.
? É um sistema em que eles ganham em espaço físico, que é o problema deles; e gera bastante adubo orgânico, transformando em biogás ? afirmou Malinski
Mas a tecnologia na Holanda ultrapassa a pecuária. A Universidade de Wageningen também desenvolve pesquisas na produção de alimentos e flores em estufas, que é condição básica para o desenvolvimento da horticultura no país, já que as temperaturas são muito baixas. A Holanda é, hoje, referência nesse modelo de produção, que ocupa cerca de 11 mil hectares no país.
Todos os anos são investidos 350 milhões de euros na construção de novas estufas na Holanda. Para dar suporte aos quase seis mil produtores, a ciência tenta avançar ainda mais em temas como adubação, sanidade e aproveitamento da luz solar para reduzir o consumo de energia. Alguns tomateiros chegam a atingir 15 metros de altura e produzem anualmente 60 quilos por metro quadrado, ou seja, 600 toneladas por hectare.
? O custo de produção hortícula na Holanda é muito alto. Por isso, o produtor holandês e a horticultura holandesa devem virar-se para produtos de alta qualidade, que forneçam a nichos de mercado. Não um produto de massa, mas produtos especializados para agradar e satisfazer cada nicho de mercado ? comenta o pesquisador em Ciências Econômicas, Marc Ruijs.
E já que os holandeses são referência na produção em estufas, deixam uma dica para o avanço desta técnica no Brasil.
? Talvez uma boa dica seja olhar para a indústria hortícula na Holanda, não para o nível tecnológico atual, mas para como ele se desenvolveu nos últimos 10 anos. Há muitos exemplos desta fase de desenvolvimento que podem inspirar o horticultor brasileiro ? diz Marc Ruijs.
O produtor paranaense de hortaliças, Maurício Valenga, observou, anotou informações e fotografou as novidades das estufas holandesas. Ficou impressionado com o que viu, mas, diante dos elevados custos para implantar o sistema, que variam de 80 a 150 euros por metro quadrado, concluiu que, hoje, o investimento é inviável no Brasil. Além do alto custo, a concorrência também seria um obstáculo.
? Poderia ser uma aposta. Seria uma vantagem desde que não houvesse a procedência de produtos de outros Estados, porque não há uma garantia de preços ? afirmou Valenga.
Confira o infográfico com as reportagens feitas pelo Canal Rural pela Europa