Uma égua começa a reproduzir, em média, aos dois anos de idade. Mas, se for selecionada para seguir em campanha morfológica e funcional, como acontece na raça crioula, essa fêmea só partirá para a cria por volta dos sete ou oito anos. Com a técnica de transferência de embrião (TE), a realidade muda. É possível ganhar tempo na seleção e manter as fêmeas em pista, sem que deixem de gerar ao menos um produto por ano.
“Quando uma égua chegar à final do Freio de Ouro, por exemplo, sem ter interrompido o treinamento enquanto gerou um produto a cada ano, ela pode estar correndo junto com um filho em pista. Isso agrega comercialmente. A valorização dessa genética tende a aumentar muito”, relata o veterinário Frederico Schmitt, especializado em reprodução animal.
A Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC) permite o uso da biotecnologia, que consiste em transferir o embrião já fecundado a uma égua receptora, desde 2005. No início, resumia-se apenas a fêmeas incluídas no Registro de Mérito da entidade, ou campeãs do Freio de Ouro, Morfologia e Marcha de Resistência. Em 2011, a transferência de embriões foi ampliada a todas as éguas da raça, com permissão de um produto ao ano. Já as ranqueadas passaram a ter o direito de duas crias anuais. Hoje, são 426 produtos de TE nascidos e registrados, sendo 127 confirmados, conforme dados da ABCCC.
De acordo com Schmitt, os criadores apostam primeiramente na TE para a disseminação da genética de éguas superiores. A técnica também é recomendada para fêmeas com algum tipo de problema que dificulte a gestação, como os locomotores, ou idade avançada. Mas a adesão ao uso da tecnologia para as éguas atletas tem aumentado a cada ano. “Nesta última temporada, o número de transferências realizadas em éguas que já estão competindo, que também são animais de ponta, superou o de fêmeas com problemas para reproduzir”, destaca o veterinário, que realiza em média 45 transferências por ano, em 12 cabanhas.
É o caso da Capanegra Agropecuária, de Dom Pedrito (RS), que seleciona cavalos crioulos há 40 anos e investe, desde 2012, na transferência de embriões para éguas superiores. Além de 10 produtos de TE já registrados, outros oito devem nascer na próxima temporada. Dois deles, da atual campeã do Freio de Ouro da Federação Internacional de Criadores de Cavalos Crioulos (FICCC), Capanegra Oña Guinda. Outras duas fêmeas em plena campanha morfológica também devem ter produtos nascidos em receptoras, enquanto participam das exposições: Capanegra Última Valsa, grande campeã e melhor exemplar em Candiota (RS), no último fim de semana, e Capanegra Ursa Nativa, que também conquistou o grande campeonato de morfologia em Esteio (RS), em novembro passado.
Para o criador Fernando Dornelles Pons, titular da Capanegra, apesar do custo que gira em torno de R$ 3 mil, a técnica é vantajosa: “Ganhamos tempo para as potrancas de pista que estão reproduzindo sem gestação, prolongamos a vida reprodutiva das fêmeas mais velhas e ainda garantimos um crescimento vertical da seleção, com a multiplicação da genética superior”, pontua.