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Economia

Mercado reage ao anúncio de Mercadante na presidência do BNDES

Nome do ex-senador para o posto foi anunciado pelo presidente eleito Lula

A reação do mercado financeiro sobre o anúncio de Aloizio Mercadante para o comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi imediata. O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira de valores, terminou a terça-feira (13) no menor nível desde agosto — queda de 1,71%, fechando o dia aos 103.539 pontos. O dólar teve leve alta, de 0,07%, sendo cotado a R$ 5,31.

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Os fatores Ibovespa em queda e dólar em alta não se deram por acaso, avaliou o economista Caio Augusto Rodrigues, da empresa Terraço Econômico, em entrevista ao Canal Rural. De acordo com ele, que participou da edição desta quarta-feira (14) do telejornal ‘Mercado & Companhia’, esses são indícios de que o mercado financeiro não vê com bons olhos a informação de que Mercadante, político filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) e ex-senador por São Paulo, comandará o BNDES pelos próximos anos.

Mercadante no BNDES: entrevista com Caio Augusto Rodrigues

caio augusto rodrigues
O economista Caio Augusto Rodrigues | Foto: Canal Rural/reprodução

Confira, abaixo, a entrevista com o economista Caio Augusto Rodrigues. Em pauta a indicação de Mercadante para o comando do BNDES e projeção sobre o futuro do mercado de crédito e da taxa de juros no país:

1 — Como o mercado enxerga a nomeação de Mercadante para o BNDES?

É uma nomeação enxergada por péssimos olhos, pois passa uma sinalização muito forte de que haverá expansão pelo lado do crédito. E não necessariamente uma expansão que seja medida, acompanhada, que tenha bons resultados, mas tal qual uma expansão de crédito que a gente viu em “Dilma I”, por exemplo, em que o BNDES emprestou R$ 300 bilhões por ano, durante alguns anos. A gente gastou um plano mágico nessa brincadeira e, no final das contas, a gente não teve nenhum avanço substancial em termos de produtividade, de emprego, de nada.

2 — Qual é o reflexo para a política de crédito?

O grande reflexo disso é que se espera uma expansão. E uma coisa que é importante ser dita: recentemente, quando estava sendo aventado do Mercadante entrar mesmo como presidente do BNDES, ele foi à Febraban [Federação Brasileira de Bancos] e anunciou que não haveria essa política de subsídios.

Essa política de subsídios funcionava de seguinte maneira: tinha um negócio no Brasil chamado TJLP, taxa de juros de longo prazo, que era a definição por parte do governo da ocasião e que dizia “para determinado grupos que eu considero especiais, vou cobrar uma taxa de juros [menor] e todos os outros agentes da economia irão pagar uma taxa de juros maior para subsidiar essa operação”.

No governo [Michel] Temer, a gente teve uma mudança. Saiu de cena a TJLP e entrou a TLP, que nos últimos anos foi tendo adaptações. Mas hoje, a TLP, que é a taxa de remuneração desses empréstimos, acompanha as taxas de mercado. Ou seja: com a TLP, você pode ter uma expansão de crédito, como está sendo anunciado de maneira bastante direta. Mas é mais problemático ainda se a gente não tiver a TLP, porque aí você vai ter uma expansão de crédito subsidiado. Com a expansão que tivemos em “Dilma I”, iremos pagar esses subsídios por algumas décadas; estima-se até 1962. Se fizermos isso de novo, e com o cenário internacional muito menos favorável, o efeito será imediato.

3 — Já da para prever um impacto também na decisão do Banco Central em relação aos juros e também na inflação brasileira a longo prazo?

A expectativa um pouco antes do período eleitoral era de que a Selic voltasse a um dígito, menor que 10%, no primeiro trimestre de 2014. Agora, com os dados que a gente tem e em meio aos nomes que estão sendo indicados, a projeção é que a taxa Selic fique acima dos 13% até 2030.

É uma questão que o nosso banqueiro central, Roberto Campos Neto, falou recentemente em um evento: o Banco Central não trabalha sozinho. A Selic está num patamar muito mais alto do que deveria. O juro real nosso, a diferença entre a Selic e a inflação, é um dos maiores do mundo.

E por que isso acontece? Porque de outro lado você tem uma fonte que vai alimentando a fogueira da inflação. Se você coloca políticas de expansão de crédito em cima de um momento em que o Banco Central está tentando reduzir a velocidade da economia para reduzir a inflação… na prática, você vê que a Selic deverá continuar nesse atual patamar, se essas políticas forem de fato colocadas em prática, por muito mais tempo do que deveria. E isso machuca muito a economia real.

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