POLÊMICA

'Nefasta e criminosa', diz secretário de Agricultura de SP sobre fala de pesquisadora do Inpe

Ela responsabilizou produtores rurais pelo aumento dos casos de incêndios florestais no Brasil

Guilherme Piai, Plano Safra
Foto: Reprodução/Redes Sociais

A coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), Luciana Gatti, concedeu entrevista à Globonews no último domingo (15) e responsabilizou produtores rurais pelos incêndios que afetam grande parte do país.

“É uma ação coordenada para desgastá-lo [o presidente Lula]. […] pessoal taca fogo na cana para colher, então, para eles, não é prejuízo. Eles fazem isso para ficar mais barata a colheita, para não fazer a colheita mecanizada”, disse ela, na ocasião.

Desafio à pesquisadora

A declaração da profissional motivou notas de repúdio de entidades ligadas ao agronegócio e indignação do secretário de Agricultura de São Paulo, Guilherme Piai. Em suas redes sociais, ele gravou um vídeo dizendo que a pesquisadora faz militância partidária e que suas declarações foram “nefastas e criminosas”.

De acordo com Piai, a servidora do Inpe manifesta publicamente a tentativa de “criminalizar um setor que é a mola propulsora de nossa economia”.

O secretário ressaltou que o estado de São Paulo conta, há mais de dez anos, com o Protocolo Etanol +Verde, que proíbe as queimadas para a colheita da cana.

“Convido você, Luciana Gatti, a visitar os homens e as mulheres do campo que perderam praticamente tudo e que estão vivendo um momento de extrema dificuldade a falar isso na cara deles, que foi encenação. Que vergonha a sua declaração. Nós esperamos já uma retratação do governo federal”.

Nota de repúdio

A Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) divulgou nota também repudiando veemente a declaração feita por Luciana.

“As informações apresentadas por ela são falsas e infundadas. Demonstram, inclusive, profundo desconhecimento sobre o tema”, diz o texto.

A Orplana reitera que toda a cadeia de produção da cana-de-açúcar está “firmemente comprometida com a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente. Este compromisso é evidenciado pelo rigoroso cumprimento das diretrizes estabelecidas pelo Protocolo Agroambiental – Etanol Mais Verde, que inclui a proibição do uso de fogo na colheita de cana no estado de São Paulo desde 2017”.

“É também de imensa irresponsabilidade, da parte da coordenadora do Inpe, acusar a cadeia produtiva da cana-de-açúcar de se beneficiar em um contexto tão crítico e caótico. Uma injúria que contribui para a desinformação em um momento delicado e cujo foco deveria ser a resolução deste grave problema”, continua a nota.

Segundo a entidade, as queimadas prejudicam o meio ambiente, a segurança das pessoas e também a rentabilidade dos produtores rurais. “Toda a cadeia de produção da cana-de-açúcar está mobilizada contra os incêndios e comprometida com a preservação do meio ambiente”, afirma o CEO da Orplana, José Guilherme Nogueira.

A organização representa, atualmente, 35 associações de fornecedores de cana e mais de 12 mil produtores de cana-de-açúcar.

Resposta do Inpe

Em resposta à equipe do Rural Notícias, o Inpe, instituição vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações respondeu que não tinha conhecimento da referida entrevista concedida por Luciana Gatti.

Segundo o serviço de comunicação social do Instituto, neste momento, a servidora encontra-se em viagem para um congresso científico, de forma que o Inpe aguarda seu retorno para se inteirar sobre o assunto.