O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, foi exonerado do cargo. A exoneração consta em portaria da Casa Civil assinada ontem e publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta quarta-feira (12).
A demissão de Geller foi informada na terça, 11, pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em meio às denúncias de irregularidades no leilão de compra pública de arroz importado pelo governo federal. O governo apurou que há indícios de conexão entre Geller e um dos intermediários das empresas vencedoras do certame público. A saída de Geller ocorre a menos de 20 dias para o anúncio do Plano Safra 2024/25, uma das principais responsabilidades da sua pasta.
Como mostrou o Broadcast Agro, o agora ex-secretário rejeitou despacho de sua exoneração da pasta com a menção “a pedido”, conforme documentos obtidos pela reportagem. O despacho da exoneração do secretário para encaminhamento à Casa Civil, assinado pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, informava que a exoneração seria “a pedido” do ex-secretário de Política Agrícola. Em troca de e-mails ao gabinete do ministro, Geller pediu a retificação do documento.
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A versão de fontes próximas a Geller contraria a versão oficial do governo de que Geller pediu demissão e ela foi aceita. De acordo com fontes, Geller não pediu demissão da pasta, mas sim foi exonerado e comunicado da exoneração pelo ministro Fávaro, relataram interlocutores que acompanharam as tratativas. O ministro comunicou Neri Geller sobre a demissão diretamente do Palácio do Planalto, onde se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar da crise de arroz.
A compra pública de arroz importado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e as denúncias de supostas irregularidades e fraudes no leilão estão por trás da demissão de Geller. Isso porque a Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT), que negociou 116 mil toneladas das 263,3 mil toneladas vendidas no leilão, é presidida por Robson Luiz de Almeida França, ex-assessor parlamentar de Geller quando era deputado federal. Além disso, a Foco Corretora de Grãos, empresa de França, foi a principal corretora do leilão. França também é sócio de Marcello Geller, filho do ex-secretário, em outras empresas. Geller nega o favorecimento a França e o envolvimento do seu filho, Marcello, no leilão. Órgãos de controle do governo reconheceram que há indícios de tráfico de influência e conflito de interesses no leilão e, portanto, orientaram a anulação do leilão e o afastamento do secretário.
Geller foi um dos principais interlocutores entre o agronegócio e o governo Lula ainda na campanha presidencial de 2022. Ex-deputado, foi candidato ao Senado em 2022 e teve o mandato cassado por abuso de poder econômico. Em dezembro do ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reverteu a cassação e devolveu os direitos políticos de Geller, que então assumiu a Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. Desde que entrou no governo, Geller assumiu a responsabilidade de reforçar a ponte com a bancada ruralista, da qual já foi vice-presidente, e diminuir a animosidade dos produtores com o Executivo.