O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, entregou nesta quarta-feira (29) ao presidente Jair Bolsonaro uma carta de demissão após ser alvo de investigação de assédio moral e sexual pelo Ministério Público Federal. A nova presidente da instituição é Daniela Marques, próxima do ministro Paulo Guedes e membro do governo Bolsonaro desde o início da gestão.
No texto de sua carta de demissão, Pedro Guimarães nega as acusações de várias funcionárias da instituição que apontaram situações de importunação.
“As acusações noticiadas não são verdadeiras! Repito: as acusações não são verdadeiras e não refletem a minha postura profissional e nem pessoal. Tenho a plena certeza de que estas acusações não se sustentarão ao passar por uma avaliação técnica e isenta”, escreveu.
A permanência de Guimarães no cargo era considerada insustentável após os relatos de trabalhadoras da instituição veiculados em reportagem do jornal Metrópoles, nesta terça-feira (28).
Aliados do governo temiam que ignorar as revelações de má conduta por parte do executivo poderia prejudicar o desempenho de Bolsonaro nas eleições de outubro, principalmente por as pesquisas indicarem que a maioria do eleitorado feminino rejeita a sua reeleição.
Denúncias
Sob a condição de anonimato, o blog da jornalista Andréia Sadi, do G1, ouviu duas mulheres que foram alvo de assédio de Guimarães. As vítimas relataram que pelo menos outras 12 trabalhadoras do banco teriam sofrido importunações de cunho sexual e que ainda existem outras que pretendem se juntar às denunciantes.
Sobre assédio moral, as funcionárias do banco relataram que “virou a forma de gestão da Caixa”. Existem relatos de café jogado nas pessoas, palavras de baixo calão dirigida a mulheres – e de cunho sexual, inclusive – durante reuniões do conselho do banco.
De acordo com os relatos, Guimarães não deixava ninguém entrar com celular em sua sala, além de ter mixador de voz e detector de metais para evitar gravações.
Em depoimento à Folha de S.Paulo, uma funcionária, que preferiu manter o nome em sigilo, contou que os assédios do presidente do banco ocorriam dentro e fora do ambiente de trabalho, inclusive na presença de outros funcionários.
Segundo ela, Guimarães tinha o hábito de passar a mão no corpo dela e de outras mulheres, dar beliscões e expressar o seu desejo de forma direta, sem medo de retaliações. A trabalhadora conta que, em uma das ocasiões, foi puxada pelo pescoço e ouviu do executivo “estou com muita vontade de você”.
Já em entrevista à TV Globo nesta quarta-feira (29), outra denunciante disse que, entre um abraço e outro, o executivo tocava em seus seios e em outras partes íntimas.
Aliado de Bolsonaro
Especialista em privatizações, Guimarães assumiu o comando da Caixa em janeiro de 2019 após ser indicado ao cargo pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda no início da gestão Bolsonaro. Desde então, o presidente do banco estatal se tornou um dos nomes mais próximos de Bolsonaro.
Antes considerado como uma figura mais discreta, o ex-presidente da Caixa ganhou holofotes após o início da pandemia da Covid-19, que fez o governo federal criar medidas de socorro financeiro à população. A mais conhecida delas foi o auxílio emergencial, benefício pago pelo governo, por meio da Caixa.
Confira a carta na íntegra
Leia abaixo a íntegra da carta de demissão que o presidente da Caixa entregou a Jair Bolsonaro:
À população brasileira e, em especial, aos colaboradores e clientes da Caixa:
A partir de uma avalanche de notícias e informações equivocadas, minha esposa, meus dois filhos, meu casamento de 18 anos e eu fomos atingidos por diversas acusações feitas antes que se possa contrapor um mínimo de argumentos de defesa. É uma situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade.
Foi indicada a existência de um inquérito sigiloso instaurado no Ministério Público Federal, objetivando apurar denúncias de casos de assédio sexual, no qual eu seria supostamente investigado. Diante do conteúdo das acusações pessoais, graves e que atingem diretamente a minha imagem, além da de minha família, venho a público me manifestar.
Ao longo dos últimos anos, desde a assunção da Presidência da Caixa, tenho me dedicado ao desenvolvimento de um trabalho de gestão que prima pela garantia da igualdade de gêneros, tendo como um de seus principais pilares o reconhecimento da relevância da liderança feminina em todos os níveis da empresa, buscando o desenvolvimento de relações respeitosas no ambiente de trabalho e por meio de meritocracia.
Como resultados diretos, além das muitas premiações recebidas, a Caixa foi certificada na 6ª edição do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), além também de ter recebido o selo de Melhor Empresa para Trabalhar em 2021 – Great Place To Work®️, por exigir de seus agentes e colaboradores, em todos os níveis, a observância dos pilares Credibilidade, Respeito, Imparcialidade e Orgulho.
Essas são apenas algumas das importantes conquistas realizadas nesse trabalho, sempre pautado pela visão do respeito, da igualdade, da regularidade e da meritocracia, buscando oferecer o melhor resultado para a sociedade brasileira em todas as nossas atividades.
Na atuação como Presidente da Caixa, sempre me empenhei no combate a toda forma de assédio, repelindo toda e qualquer forma de violência, em quaisquer de suas possíveis configurações. A ascensão profissional sempre decorre, em minha forma de ver, da capacidade e do merecimento, e nunca como qualquer possibilidade de troca de favores ou de pagamento por qualquer vantagem que possa ser oferecida.
As acusações noticiadas não são verdadeiras! Repito: as acusações não são verdadeiras e não refletem a minha postura profissional e nem pessoal. Tenho a plena certeza de que estas acusações não se sustentarão ao passar por uma avaliação técnica e isenta.
Todavia, não posso prejudicar a instituição ou o governo sendo um alvo para o rancor político em um ano eleitoral. Se foi o propósito de colaborar que me fez aceitar o honroso desafio de presidir com integridade absoluta a Caixa, é com o mesmo propósito de colaboração que tenho de me afastar neste momento para não esmorecer o acervo de realizações que não pertence a mim pessoalmente, pertence a toda a equipe que valorosamente pertence à Caixa e também ao apoio de todos as horas que sempre recebi do Senhor Presidente da República, Jair Bolsonaro.
Junto-me à minha família para me defender das perversidades lançadas contra mim, com o coração tranquilo daqueles que não temem o que não fizeram.
Por fim, registro a minha confiança de que a verdade prevalecerá.
Pedro Guimarães