As recomendações da iniciativa privada para o G20 Agro, chamado B20, foram entregues nesta segunda-feira (9) ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), durante o Fórum Internacional da Agropecuária (FIAP), em Cuiabá, Mato Grosso.
Entre as contribuições estão o aumento da produtividade, liberação de recursos financeiros e uma maior participação das tradings como agente financiador.
Promovido pelo Canal Rural, o evento reúne na capital mato-grossense especialistas e autoridades de renome para debater as inovações e tecnologias que moldaram a agricultura e pecuária brasileira de agora em diante.
Assim, o FIAP antecede a reunião do G20 Agro, que ocorre em Chapada dos Guimarães, entre os dias 10 e 13 de setembro.
Veja as recomendações do B20
Finanças e Infraestrutura: acelerar a implantação de capital privado para facilitar a transição para uma economia sustentável de baixo carbono.
Medidas prioritárias:
- Revisar o papel do financiamento do setor público para melhorar a eficiência de alocação de capital em prol do financiamento climático, com objetivo principal de mobilizar capital privado para destravar investimentos do setor em escala;
- Debater as políticas de capital regulatório e das agências classificadoras de risco para o financiamento climático, para ter condições de aumentar a mobilização dos fluxos de capital do setor privado para investimentos climáticos.
Transição Energética e Clima: acelerar o desenvolvimento e o uso de um portfólio de soluções de energia renovável e sustentável para impulsionar a descarbonização no curto (2030) e no longo prazo (2050), garantindo segurança energética.
Medidas prioritárias:
- Elaborar políticas, regulações e incentivos para triplicar a capacidade energética renovável até 2030, expandir a infraestrutura das redes e acelerar a ampla eletrificação;
- Estabelecer mecanismos e iniciativas para explorar o potencial sustentável e a prontidão de bioenergia e biocombustíveis para descarbonização, para atingir o net zero e garantir a segurança alimentar;
- Expandir outras soluções de transição para o net zero, como captura, uso e armazenamento de carbono (CCUS), hidrogênio limpo e energia nuclear.
Sistemas Alimentares Sustentáveis e Agricultura: criar modelos inovadores de financiamento e colaboração para apoiar a transição dos agricultores para sistemas alimentares resilientes e sustentáveis.
Medidas prioritárias:
- Os membros do G20 devem usar mecanismos de financiamento combinados, melhorar as capacidades e ofertas financeiras – reduzindo riscos e incentivando investimentos – e redirecionar o apoio agrícola para acelerar a transição para sistemas alimentares mais resilientes, sustentáveis e equitativos;
- Esses países também devem desenvolver uma estrutura regulatória que acelere o desenvolvimento de créditos interoperáveis e de alta integridade para serviços como captura de carbono, e redução do uso de água doce.
Comércio e Investimento: promover comércio e investimentos sustentáveis e resilientes.
Medidas prioritárias:
- Promover metodologias aceitas internacionalmente para cálculo e prestação de contas sobre a pegada de carbono de produtos, além de viabilizar boas práticas regulatórias e taxonomias para instituições que queiram promover a sustentabilidade ambiental;
- Iniciar a revisão de políticas comerciais restritivas unilaterais dos países do G20 nos últimos três anos.
Mulheres, Diversidade e Inclusão: promover um ambiente inclusivo para o futuro do mercado de trabalho.
Medidas prioritárias:
- Garantir orçamento público para dar suporte abrangente e acesso equitativo à educação para estudantes de baixa renda, com deficiência e demais grupos sociais relacionados, desde a primeira infância até a capacitação e requalificação;
- Assegurar a implementação responsável de IA sem vieses, por meio de comitês e alianças entre empresas dos setores público e privado, com incentivo quando houver promoção de diversidade e inclusão para o desenvolvimento desses profissionais.
Emprego e Educação: preparar uma força de trabalho resiliente e produtiva para o futuro do trabalho.
Medidas prioritárias:
- Requalificar e melhorar competências para diminuir a escassez de talentos, especialmente em proficiência digital e sustentabilidade, por meio de incentivos financeiros para implantar soluções de aprendizagem integradas no trabalho e para facilitar o reconhecimento de competências;
- Aumentar a relevância e a qualidade da educação básica e da educação profissional e tecnológica (EPT) para a força de trabalho desenvolver habilidades essenciais para emprego e negócios do futuro.
Transformação Digital: atingir conectividade universal de indivíduos e empresas, promovendo a confiança digital e a cibersegurança, estabelecendo as bases para uma abordagem responsável e pró-inovação para novas tecnologias, como a IA.
Medidas prioritárias:
- Acelerar a expansão e o uso da infraestrutura de tecnologia da informação e comunicação por meio de modernização regulatória e parcerias público-privadas (PPPs) que incentivem investimento, colaboração e competição justa;
- Fomentar cooperação multilateral para melhoria da ação cibernética internacional;
- Fortalecer a colaboração internacional e escalar frameworks pró-inovação baseados em gestão de risco para o desenvolvimento, implementação e governança responsáveis da IA.
Integridade e Conformidade: promover a liderança ética para fomentar o crescimento inclusivo.
Medidas prioritárias:
- Aprimorar a transparência e a comunicação em sistemas de inteligência artificial (IA) com a criação de códigos de conduta, a adoção de frameworks globais sobre o desenvolvimento, e a implementação e uso da IA de forma consciente e ética;
- Estimular os setores público e privado a promoverem um local de trabalho justo e seguro, com medidas para prevenir e combater o assédio.
FIAP foi uma força-tarefa do agro
Presidente do Canal Rural, Julio Cargnino destacou que o FIAP é um momento muito importante para o agronegócio brasileiro.
“Foi uma força tarefa de nove meses de trabalho. Um evento feito a muitas mãos, uma janela de oportunidade que vai até o ano que vem quando o Pará receberá a COP30”.
Anfitrião do Fórum, o presidente do Sistema Famato, Vilmondes Tomain, pontuou que o evento é um espaço para troca de conhecimento e de estabelecimento de estratégias que garantam a competitividade e sustentabilidade do setor.
Brasil sediar o G20 é uma oportunidade
Na avaliação do presidente da Apex Brasil, Jorge Viana, o Brasil sediar o G20 é uma grande oportunidade. Segundo ele, a atual realidade, com insegurança alimentar e crise climática, serve para mostrar que “vivemos todos num mesmo planeta”.
“Quando um avião cai, não vão atrás de culpados e sim do que ocasionou a queda. E é o que precisamos fazer com a questão do clima. O mundo vive uma insegurança alimentar e crise climática. Eventos como este servem para buscarmos soluções para enfrentarmos os desafios”, disse.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, ressaltou os esforços do governo brasileiro para restabelecer a posição do Brasil no cenário global e a abertura de 184 novos mercados nos últimos meses.
“Mas os desafios seguem e precisamos pensar em como vamos seguir produzindo e alimentando o mundo. Temos dois grandes fóruns no Brasil, que são o G20 e a COP30 e neles vamos debater isso”.
Já o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, lembrou que até 20 anos atrás o Brasil era conhecido como o país do futebol e hoje é um dos maiores exportadores de alimentos.
“Produzir alimentos se faz como há milhares de anos. Com tecnologia e inovação. Mas, nós temos os nossos desafios e precisamos trabalhar nisso. Um deles é combater as ilegalidades ambientais. Outro é sermos tratados de forma diferente com seguro rural, políticas públicas. Vamos continuar crescendo se soubermos fazer a nossa lição de casa. Que tenhamos altivez para cobrar também aquilo que nos estão cobrando”, destacou Mauro Mendes.
Objetivo do B20 agro
De acordo com o vice-presidente da CNI, Alexandre Furlan, o objetivo com o B20 é garantir que as recomendações não sejam somente ouvidas, como trabalhadas.
“As conclusões dessas sete forças-tarefas nos ajudarão a trazer benefícios ao Brasil e avanços no cenário internacional”.
Para o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o B20 e as suas contribuições “são de suma importância. Precisamos debater que o mundo participe em conjunto na erradicação da fome”.
As recomendações foram entregues ao ministro pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária, Roberto Perosa, e pelo CEO Global da JBS e presidente do grupo de Trabalho de Sistemas Alimentares Sustentáveis e de Agricultura, o B20, Gilberto Tomazoni.
“Nós como Brasil sugerimos alguns temas de debate que foram aceitos. O Brasil sabedor das dificuldades que temos, decidimos desde o início que faríamos uma declaração ministerial sobre tudo o que está sendo dito, facilitando, inclusive, a população de nos cobrar o que aqui foi sugerido e decidido”, disse Roberto Perosa.
O CEO Global da JBS, Gilberto Tomazoni, destacou a abertura do Ministério da Agricultura e Pecuária durante o processo de construção das recomendações do B20, no qual três eixos foram considerados importantes.
“A conclusão à qual nós chegamos é que os três eixos de propostas servem para todos. As propostas estão baseadas em aumentar a produtividade, ter recursos para fazer essa transformação e as tradings como mecanismo para acabar com a insegurança alimentar e serem agentes financiadores”, pontuou Tomazoni.
Ainda segundo o CEO Global da JBS, “nós temos o desafio de aumentar a produtividade de forma igualitária e temos que fazer com que todos participem com a adoção de melhores práticas”.
O evento é apoiado por diversas entidades, incluindo a CNA, Sistema Famato, CNI, CropLife e outras, com patrocínios da JBS, Apex Brasil, John Deere, Senar MT, e apoio de conteúdo da CNN Brasil.