O preço do boi, medido pelo indicador Cepea/B3, chegou a R$ 219,65 por arroba nesta quinta-feira, 2. Esta é a cotação mais alta desde dezembro de 2019, quando o patamar atingido foi próximo a R$ 224 por arroba. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), nas últimas duas semanas, a média do indicador ficou praticamente 10% acima da observada em 2020 até então.
Tendências de preços do boi
De acordo com a consultoria StoneX, a tendência é de que os preços dependam principalmente da evolução da demanda interna e da externa, sobretudo das importações da China. O analista de mercado Caio Toledo estima aumento da oferta de boiadas a partir de julho, de aproximadamente 10% na comparação mensal, e um avanço permanente da oferta com o passar dos meses durante o período da entressafra, em virtude da saída de animais confinados meses atrás.
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Toledo projeta que para o curtíssimo prazo, na primeira quinzena de julho, como é típico do período, os preços devem se manter firmes, enquanto que na segunda quinzena, pode haver algum viés de baixa. Para o restante do ano, caso a demanda acompanhe o aumento da oferta citado pela empresa, é possível que as cotações se sustentem. Porém, caso não haja retomada da demanda interna ou exista uma perda de fôlego da demanda chinesa, os preços devem recuar.
A Scot Consultoria avalia que entre agosto e setembro, o Brasil observar um volume maior de gado de confinamento. Porém, é possível que as flexibilizações e a retomada econômica estejam mais estabelecidas de maneira que caso as exportações sigam em ritmo forte, o mercado possa se manter firme.
Oferta restrita de animais
A demanda da China e o ciclo de médio prazo, com maior retenção de vacas, têm sido apontados como os principais motivos para a diminuição da oferta de animais. Além disso, o consumo doméstico retraído com a crise da pandemia do novo coronavírus influenciou a redução de abates.
A Covid-19 também afetou a capacidade de abate de frigoríficos, que precisaram adaptar a produção às medidas restritivas. Há também os que tiveram que paralisar as atividades por algumas semanas. O analista da StoneX Caio Toledo adiciona ainda que o clima favorável nos últimos meses ajudou o produtor a manter o animal no pasto.
Exportação de carne bovina recorde
Em junho, as exportações de carne bovina brasileira bateram recorde para o mês, com cerca de 150 mil toneladas embarcadas. De acordo com estudo da consultoria Agrifatto, a China absorve 10% do que é produzido no Brasil atualmente.
Segundo estudo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), cerca de 20% da produção brasileira é exportada, enquanto que o restante é direcionado ao consumo doméstico. Já a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) estima que o total embarcado já ultrapassa os 20%, e com viés de alta em virtude do aumento do apetite chinês.
Risco de dependência da China
No acumulado do ano, entre janeiro e maio, a China, considerando também Hong Kong, respondeu por 56,5% do total de volume exportado de carne bovina pelo Brasil. Essa dependência traz riscos, pois o país asiático passa a ter um poder de barganha importante para renegociar preços.
O movimento recente de suspensão de alguns frigoríficos brasileiros é atrelado a essa intenção por alguns analistas de mercado. O analista da Agrifatto Yago Travagini avalia que esta dependência é o maior risco para o mercado de boi no momento. O dólar seria outro ponto de risco, mas ele não prevê grande valorização do real no restante do ano.
Abertura de novos mercados
Nesta semana, México e Canadá habilitaram seis novas plantas frigoríficas brasileiras para exportação. De acordo com a XP Investimentos, cinco habilitações foram concedidas para embarque de carne bovina ao México e uma para embarque de carne de aves ao Canadá.
A avaliação da instituição é que as autorizações são positivas pois reforçam a diversificação geográfica das exportações dos frigoríficos brasileiros. A Agrifatto não tem notícias de novas habilitações no radar, mas entre os mercados a serem disputados, os mais relevantes seriam Estados Unidos e Japão.