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Bom Dia Campo: Café brasileiro negociado na BM&F supera cotação do grão na bolsa de Nova York

Segundo o diretor-executivo da Sincal, Fernando Souza Barros, baixos estoques valorizam o café produzido no BrasilA combinação entre oferta mundial escassa, demanda elevada, problemas de clima e de safra, levou a uma situação inédita no mercado futuro do café. Pela primeira vez a commodity negociada em São Paulo ficou mais cara do que na bolsa de Nova York. Para o analista de mercado e diretor-executivo da Associação Nacional dos Sindicatos Rurais das Regiões Produtoras de Café e Leite (Sincal), Fernando Souza Barros, a situação se explica porque o mercado ficou muito estreito entre oferta e procura e, com

? A pessoa que compra o café na BM&F sabe que vai recebê-lo, coisa que não acontece em Nova York. Fora isso, você tem os problemas nos impostos, PIS e Cofins, que durante 10 anos ou mais foram utilizados para dar desconto aos importadores do nosso café. Com esse subsídio camuflado, que será extinto em 1º de janeiro de 2012, o mercado ficou distorcido, quando na verdade o café brasileiro é de ótima qualidade. Então, agora, chegou a nossa vez ? diz Barros.

Segundo o analista, já faz alguns anos que o Brasil vem vendendo seu café abaixo da concorrência, baseado na cotação de Nova York, onde se trabalha com um produto que não é brasileiro, mas sim colombiano. Por isso, o Brasil perde cerca de US$ 40 por saca em relação ao valor do café nacional.

? De uns tempos para cá, a bolsa de Nova York está com dificuldade de ter cafés certificados com prazo de validade bastante restrito. Os cafés que estão lá hoje deveriam ter desvalorização em torno de 40%, pois são cafés de 12 a 13 anos, bastante brancos. Infelizmente nós nos baseamos em cotações de um produto que não é nosso para vender nosso café, e com isso eles estão nos retirando cerca de US$ 30, US$ 40 por saca em relação ao valor do nosso café ? alerta.

Um dos problemas da desvalorização do café brasileiro no mercado internacional é a falta de marketing da commodity, coisa que a Colômbia faz com seu produto. Para Barros, o Brasil não pode fazer propaganda eficiente de seu café se ele é vendido na Bolsa de Nova York abaixo do que realmente vale, baseado em uma cotação que não é sua.

? Como é que você vai fazer marketing de um produto que está sendo vendido baseado em uma cotação de uma bolsa que não é de seu produto, além de estar vendendo abaixo dessa cotação. Como é que vou dizer que sou o melhor do mundo se eu já estou por baixo?

Para o analista, uma possível solução seria deixar a bolsa de Nova York e mudar para a bolsa de Chicago, onde poderia haver transparência para saber o que se está comprando e vendendo.

? Em Chicago, você teria transparência de ter o café brasileiro cotado lá, natural, podendo ser liquidado com a entrega aqui, por exemplo. Tudo é uma questão de se montar um contrato igual ao daqui, de forma que os players possam operar lá tranquilamente. Acredito que nosso negócio é lutar pela transparência, olhar na tela e saber o que de fato se está comprando e vendendo, e não criar obscuridades para tomar o café brasileiro o máximo pelo mínimo. Um levantamento nosso mostra que nos últimos 13 anos nós perdemos algo em torno de R$ 30 bilhões fazendo jogo de dumping, tentando detonar o mercado. O Brasil tem 58% do mercado de arábico no mundo, por que ele tem que vender pelo mínimo?

Barros acredita que o Brasil tem um café de excelente qualidade, o que falta ao país é um trabalho eficiente de marketing para atingir o consumidor final.

? Tem que se conversar e chegar a um consenso. Já existe um trabalho, a BM&F sabe disso. Porque aí você vai poder fazer marketing, dizer que é melhor que os outros. Tem que fazer um trabalho profissional, fazer uma coisa para funcionar. Temos compradores como Índia, China, alguns países asiáticos, países do leste europeu. O café brasileiro tem excelente qualidade, infelizmente o nome do Brasil some porque eles usam nosso café para melhorar o deles e capturar o consumidor, que é o objetivo final do negócio. O produtor brasileiro trabalha pelo consumidor. Cooperativa, exportador, tudo é intermediário, o produtor tem que visualizar o consumidor, que é o freguês final dele ? conclui Barros.

Confira a entrevista completa de Fernando
Souza Barros para o Bom Dia Campo:

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