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Angus: em dois anos, genômica pode atingir 50% de reprodutores avaliados

Segundo pesquisador, isso dará ao selecionador a oportunidade de desenvolver linhagens completas de animais de alto valor de mercado

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Foto: Associação Brasileira de Angus

Em dois anos, o Brasil deve atingir o mesmo patamar de genotipagem de reprodutores angus dos Estados Unidos. Respeitando as proporções dos rebanhos, a meta é ter um em cada dois animais avaliados pelo Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne (Promebo) genotipado.

A projeção foi apresentada nesta terça-feira, 24, pelo geneticista e chefe da Embrapa Pecuária Sul, Fernando Cardoso, durante a terceira Jornada Técnica Angus. Segundo ele, a previsão de genotipar 50% dos reprodutores avaliados por ano é realista e factível.

A jornada foi promovida totalmente de forma virtual com transmissão por plataforma fechada, pelo Lance Rural e pelos canais de YouTube da Associação Brasileira de Angus e do Canal Rural. A programação segue até quinta-feira, 26, com início sempre às 19h. As inscrições ainda estão abertas por meio do link.

Parceria Brasil-Estados Unidos

O trabalho de genômica dos rebanhos angus do Brasil vem sendo acompanhado de perto pelos geneticistas norte-americanos, principalmente por ofertar análises para características inéditas e de difícil mensuração, como a resistência ao carrapato.

O pesquisador canadense e diretor da Angus Genetics Inc (AGI), Stephen Miller, apresentou a expansão consistente da genômica no rebanho dos Estados Unidos. O trabalho iniciou-se em 2010. Em 2012, eram 11 mil animais genotipados, marca que atingiu 873 mil em 2020 e, dentro de um ano, deve passar das históricas 1 milhão de cabeças.

De acordo com Miller, é essencial o avanço das análises de fenótipo para formação da base de dados para as avaliações genômicas, garantindo que o levantamento se mantenha atualizado e a acurácia do sistema aumente rumo a um novo futuro para a pecuária.

“A taxa está crescendo de forma consistente. Tão logo colocamos as avaliações para uso dos criadores, eles mesmos começaram a genotipar seus animais. Isso foi o que impulsionou o banco de dados”, ponderou ele. Processo similar vem ocorrendo no Brasil, uma vez que importantes criatórios já genotiparam seus rebanhos e, inclusive, forneceram seus dados para compor a base de referência da raça como a Casa Branca Agropastoril, de Silvianópolis (MG).

Miller explicou que, quanto maior a dificuldade de avaliação de uma característica, maior precisa ser sua população de referência. Um exemplo é a análise de conformação de patas, o que a Associação Americana de Angus chama de tolerância à altitude, e a capacidade de pelechamento, algo essencial para regiões com altas temperaturas. Com 10 mil animais genotipados para essa característica, os EUA avaliam a adaptação desse gado a regiões de climas quentes e a capacidade de perder a pelagem de inverno.

Pesquisa realizada com animais no Missouri e na Carolina do Norte indicou diferentes níveis de pelechamento. “Constantou-se que a herdabilidade para perda de pelo é alta, e a genômica contribuiu com as DEPs para essa característica. A genômica está tendo uma influência importante nas DEPs nos Estados Unidos”, diz Miller.

Criadores de angus dos EUA tiveram dúvidas

O avanço consistente da genômica frente às DEPs gerou dúvidas entre os próprios criadores norte-americanos. Mas, afinal, será que esse novo rumo de seleção estava levando os rebanhos para um caminho seguro? O assunto gerou tanta preocupação que motivou uma pesquisa. Miller explicou que os criadores resolveram olhar o passado com novos olhos, avaliando se as informações genotípicas realmente se confirmaram com as progênies.

O estudo considerou 178 touros com ao menos 25 filhos com avaliações de porcentagem de gordura intramuscular, peso ao nascer, peso a desmama e peso ao ano. A análise das predições desses reprodutores foi feita em recortes diferentes: avaliando apenas os dados de pedigree, avaliação de pedigree + desempenho próprio do animal, apenas genômica e os dados foram comparados com a análise da progênie. A conclusão foi que o maior índice de confiabilidade de seleção encontra-se na análise conjunta entre dados genômicos e o histórico do animal.

“Usando apenas a genômica, temos resultados superiores às antigas DEPs. Avaliando o genótipo, o valor do fenótipo fica menor. Se olharmos para o touro pós-progênie, fica claro que o genótipo tem melhor resultado”, concluiu o americano.

Voltando ao Brasil…

Em sua palestra, Fernando Cardoso ainda indicou que a grande contribuição da genômica para a pecuária brasileira virá exatamente da predição de característica de alta importância econômica, como a resistência ao carrapato e a eficiência alimentar.

Outra tendência na mira do pesquisador é a avaliação da longevidade de vacas e do perfil de ácidos graxos, critério que pode ser decisivo para definição de animais capazes de produzir uma carne cada vez mais saudável.

Segundo ele, o avanço deste trabalho significa dar ao selecionador angus a oportunidade de desenvolver linhagens completas de animais superiores e, por consequência, de alto valor de mercado.