Animados com a atual valorização da arroba do boi, pecuaristas de Mato Grosso aproveitam o bom momento para investir na atividade. A iniciativa é melhorar a produtividade e garantir boa remuneração durante os picos de oferta de animais.
O pecuarista Marcos Jacinto, por exemplo, investe em genética de ponta na fazenda, desenvolve o ciclo completo de bovinos, cria, recria e engorda e acabou de fazer a última entrega de animais para abate em setembro. Para o próximo ano, ele deve entregar uma nova remessa de fêmeas de descartes que não estiverem prenhas e outra de machos de 20 a 24 meses. O mercado aquecido com boa remuneração na arroba é muito comemorado pelo criador.
- Aproveitar a atual margem de lucro para melhorar a qualidade do rebanho e garantir a remuneração esperada é a principal estratégia do setor
- Boi gordo: preços voltam a subir com forte demanda chinesa
“Há três anos, a gente estava praticamente dando boi. Estávamos com um rebanho muito grande pela demanda e isso veio provocando uma baixa procura pelo frigorífico que, por consequência, reduziu o interesse pelo boi magro, pelo bezerro, agora aconteceu uma tempestade que, para nós, é perfeita. Está em uma época de baixa produção ou uma produção média, com uma demanda muito grande e hoje está mais interessante a atividade”, disse.
Segundo o Instituto Mato Grossense de Economia Agropecuária (Imea), a escassez de animais para abate está sendo uma constante em 2020. Este cenário, somado às exportações em níveis mais elevados, está fazendo com que os preços da arroba permaneçam com tendência de alta.
No comparativo entre a primeira semana de setembro com a primeira de outubro, as arrobas do boi e da vaca subiram mais de 10%, ainda refletindo a alta procura por animais para abate. “A rentabilidade finalmente começa a chegar no bolso do pecuarista. Nós passamos quase cinco anos com a arroba estagnada, tivemos só no final de 2019 uma rentabilidade por causa do segundo semestre da China. Achamos que seria só um boom inicial, mas isso veio se mantendo mesmo durante a pandemia e estamos em uma época em que teríamos uma oferta melhor de animais saindo do confinamento e, esse ano, isso não é uma realidade, porque tivemos uma redução de 30% de animais confinados”, comentou a diretora-executiva da Acrimat, Daniela Bueno.
O setor, no entanto, não acredita na manutenção dos atuais patamares de preços, mas se mantém otimista com um teto maior do que o alcançado no ano passado. “A pecuária é muito sazonal. Nós estamos nesse valor de arroba bastante elevado porque realmente está faltando animais prontos para o abate, mas a gente acredita que agora, com a chegada das chuvas e melhoria das pastagens, esses animais voltem a aparecer e aumente a oferta. O que tende a baixar um pouco mais, mas com os aumento dos custos totais da produção, nós não temos como chegar a patamares muito inferiores aos praticados em 2019”, completou Daniela Bueno.
Aproveitar essa margem de lucro para melhorar a qualidade do rebanho e garantir a remuneração esperada é a principal estratégia do setor. “A gente sabe que daqui dois, três anos o mercado normaliza e aí vai ter uma superoferta de boi. Por isso, o produtor precisa fazer a sua lição de casa, o que estamos tendo agora, uma oportunidade de ter uma rentabilidade para poder investir na nossa atividade. Então, tem muita gente jogando calcário na terra e adubando, fazendo inseminação, adquirindo touros de qualidade, investimentos que vão proporcionar daqui a dois, três anos um aumento de produtividade que vai ser favorável”, finalizou Marcos Jacinto.