Mesmo com o recente crescimento da produção de suínos e o salto de oferta ocorrido de 2019 a 2021, puxado pelo aumento da demanda chinesa, o Brasil agora vive uma crise no setor de suinocultura em 2022, destaca a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS).
Em relatório divulgado pelo IBGE nesta última terça-feira (15) sobre o abate de suínos, dados mostraram que houve crescimento no setor de 9,12% no volume de produção de carcaças suínas e 7,32% em cabeças abatidas no ano de 2021 em relação a 2020. Em relação. Além disso, a produção de carne suína no acumulado de 2016 a 2021, (em toneladas) cresceu mais de 30% enquanto a carne bovina estagnou (0,67%) e a de frango cresceu 10,43%.
Durante 2020, as exportações absorveram a maior parte do excedente da produção em massa na suinocultura. Contudo, em 2021, o mercado interno teve que suportar uma oferta de 294,5 mil toneladas, enquanto a produção aumentou 408,6 mil toneladas.
A associação diz que o excedente de carne suína no mercado interno em 2021, foi piorado por um momento de perda de poder aquisitivo da população brasileira, além do aumento no custo de produção onde acabou acarretando o início da crise da suinocultura que persiste neste início de 2022.
A previsão para este ano era de um primeiro semestre de dificuldades para a suinocultura, com o preço de venda do suíno em baixa e alto custo de produção. O que não estava sendo previsto, era a piora desse cenário com a invasão da Ucrânia, e as sanções impostas à Rússia que acabaram acarretando em mais crises para o mercado.
“A suinocultura acabou sendo afetada de forma indireta, com aumento dos combustíveis, aumento da cotação dos grãos e falta de fertilizantes. Ademais, o custo alto de produção com o baixo preço de compra, dificultam a recuperação do prejuízo acumulado no ano passado”, destaca a ABCS
Já para as demais carnes (bovina e frango) a Rússia que até pouco tempo era um dos maiores compradores dos produtos, já não corresponde mais a uma parcela relevante das exportações.
Segundo o presidente da ABCS, Marcelo Lopes, “Certamente esta é uma das piores crises da história da suinocultura brasileira, mas há um fator peculiar neste momento que é o grau de incerteza mundial diante de uma pandemia ainda em curso e a recente eclosão da guerra na Ucrânia. Estes acontecimentos determinam um ambiente muito propício à volatilidade dos mercados e, principalmente, às especulações, mas não há, ao menos no curto prazo, qualquer indicativo de desabastecimento dos principais insumos agropecuários no Brasil. O Agronegócio mundial mostrou resiliência fantástica no auge da pandemia e esperamos que esta força se mantenha diante destes novos desafios”, conclui.
Mesmo, com uma cota de 100 mil toneladas de exportação de carne suína anunciada no final do ano passado para a Rússia e que teria prazo para ser cumprida no primeiro semestre de 2022, as dificuldades logísticas determinadas pela guerra, além das sanções que dificultam as transferências bancárias da Rússia são uma ameaça à continuidade destes embarques.
Entretanto, a maior preocupação no momento quanto às exportações ainda é a redução dos embarques para a China e o baixo valor em dólar pago pela carne nos últimos meses. Ainda assim, no primeiro bimestre de 2022, o Brasil exportou um total de 131,8 mil toneladas de carne suína in natura, 4,6 mil toneladas a mais que o mesmo período do ano passado.
As exportações chinesas neste início de ano representaram somente 38% dos embarques (ano passado foi mais de 50%), com volumes muito inferiores aos do ano passado e abaixo até mesmo do que foi exportado em janeiro e fevereiro de 2020.
O preço médio da carne suína in natura exportada em dólar, atingiu o pico em julho de 2021 e o menor valor em fevereiro de 2022 com uma diferença de preço em reais vendido para a China em relação ao mercado doméstico de carcaça (São Paulo) também caiu para próximo de 20%.
“A boa notícia em relação ao mercado nacional da suinocultura, vem das cotações do suíno vivo e das carcaças no mercado brasileiro, que vinham despencando desde dezembro do ano passado, mas acabaram estabilizando nas últimas semanas, indicando que a pior fase de desbalanço entre oferta e procura já passou, mas ainda há dificuldades”, destaca a ABCS.