A valorização do milho e a estimativa de crescimento de 30% na demanda pelo grão para produzir etanol deixam criadores de suínos e pecuaristas de Mato Grosso apreensivos em relação à oferta do produto que é a base da ração dada aos animais
Para o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a segunda safra 2020/21 de milho só começa a ser contabilizada a partir de julho no estado. O crescimento estimado é de 5% na área cultivada, com produção estimada em mais de 36 milhões de toneladas, um novo recorde. No entanto, a demanda segue firme tendo em vista o aumento da capacidade de produção pelas usinas de etanol.
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“A gente deve atingir quase 7,5 milhões de toneladas de milho para produção de etanol em 2020/21, valor bem considerável vendo a nossa produção. Isso é bem mais do que 50% do consumo interno em Mato Grosso, que está indo para o etanol, então as perspectivas, olhando para o lado da indústria de processamento de milho, é muito boa. E é importante a gente falar que, desses 7,5 milhões de toneladas que são processados, em torno de pouco mais de 1 milhão viram DDG que m boa quantidade está sendo usado aqui dentro do estado, para consumo animal”, disse o analista do Imea Marcel Durigon.
O aquecimento da demanda causa desequilíbrio e pode deixar o balanço de oferta e demanda pelo cereal bem apertado no mercado interno. “Estamos vendo a disputa pelo milho entre, por exemplo, o consumo para as fábricas de ração e as indústrias de etanol, o que acaba afetando os preços. Hoje, as indústrias estão procurando os produtores mais cedo para comercializar e garantir um milho mais cedo, mas a parte de consumo para ração está muito incerta ainda”, disse o analista.
Preços
A apreensão com os custos em relação a valorização do cereal também está pautada e deve pesar no bolso dos criadores. De acordo com Aldo Rezende Telles, presidente da Nelore-MT, é preciso ficar atento ao preço dos insumos e da arroba do boi. “O milho que a gente comprou por R$ 30 foi a R$ 70 e agora estamos na fase da arroba em decadência”, contou.
Há consequências também para os custos na suinocultura, o que deixam o setor em estado de alerta. “O milho, hoje balizando preços futuros, analisando os futuros contratos, para preços e entregas futuras, acima de R$ 40, mas esse valor nunca foi pago aqui. Então, a partir deste ano a gente percebe que na colheita esse preço é o mínimo que iremos pagar, já temos a certeza do custo elevado e se a suinocultura não for remunerada de acordo ao custo, teremos um ano no vermelho”, disse o presidente da Acrismat, Itamar Canossa.
Outro desafio dos suinocultores é superar a possível escassez do cereal. Algumas estratégias estão sendo adotadas para garantir o produto nas granjas.
“Não há mais estoques como era comum em anos anteriores, então, agora a nova forma de trabalho será através de contratos futuros e o suinocultor tem que se adaptar a essa nova realidade. A Acrismat procurou e está tentando viabilizar via Conab contratos onde a Conab acaba ditando as regras, pois aí há uma garantia de compra e venda do produto onde o produtor trava diretamente com o fornecedor na compra do milho. Está se fazendo essa questão e estamos tendo êxito nessa forma de negociação”, completou.