O Plano ABC, que estimula a agricultura de baixo carbono no Brasil, pode ter ajudado a recuperar 26,8 milhões de hectares de pastagens degradadas. Para objeto de comparação, o território do Reino Unido — formado por Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte — é menor, com cerca de 24,2 milhões de hectares. O resultado também supera a meta do programa, que era de 15 milhões de hectares.
O dado faz parte de um estudo pioneiro do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (Lapig/UFG). A pesquisa avaliou, com base na classificação automática de imagens de satélites da série Landsat, o grau de degradação das áreas de pastagens no período de influência do Plano ABC. Notou-se uma queda significativa na quantidade de propriedades com áreas de pastagens com degradação severa e moderada entre 2010 e 2018.
Segundo o estudo, o aumento na qualidade das pastagens foi mais expressivo nas regiões Centro-Oeste e Sul, abrangendo Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul. O Tocantins também registrou bons resultados. A recuperação ocorreu principalmente no bioma Cerrado, em que houve maior investimento do Plano ABC com esse fim.
Nas áreas de contratos do Plano ABC para recuperação de pastagens degradadas, a área total com pastagens classificadas como Degradação Severa reduziu de 34,3% para 25,2% no período avaliado. A análise de cerca de 5,5 milhões de propriedades, conforme os dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR), também sugere um aumento nas áreas de pastagens classificadas com Degradação Leve e Não Degradada. Em termos proporcionais, e considerando este conjunto de propriedades, o aumento mais expressivo foi para a classe Não Degradada, de aproximadamente 94,7 %.
As áreas totais ocupadas por pastagens em 2010 e 2018 foram de aproximadamente 171,6 e 170,7 milhões de hectares, respectivamente. “Estes números indicam uma estabilização na área total ocupada na última década, que de fato vem ocorrendo e é evidenciado por uma melhora na condição das pastagens”, diz o relatório.
Estudo fortalece importância do Plano ABC
Segundo a diretora do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação (Depros) do Ministério da Agricultura, Mariane Crespolini, o estudo é pioneiro no país. “Ele nos permite avaliar a efetividade da política pública e o quanto os produtores rurais, quando incentivados, são capazes de corresponder adotando práticas sustentáveis de produção”, diz.
O Plano ABC é uma política nacional focada em estimular a agricultura sustentável. A iniciativa foi lançada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 15), realizada em dezembro de 2009, em Copenhague, na Dinamarca.
No primeiro trimestre do atual ano-safra (julho a setembro de 2020), as áreas agropecuárias com tecnologias de redução dos gases do efeito estufa financiadas pela linha de crédito do Programa ABC passaram de 245 mil hectares para 485,1 mil hectares, crescimento de 97,9% na comparação ao mesmo período de 2019.