A Associação Brasileira de Angus, em parceria com a Affectum Consultoria, promoveu, na quinta-feira (1º) durante a Expointer, o “Fórum Angus ATM Agro: a evolução da pecuária”. A ideia foi debater junto a profissionais do setor assuntos de grande relevância para o constante desenvolvimento da atividade no país, acompanhando as novas
tendências de mercado e de gestão das propriedades.
“Fala-se que para 2030 teremos que aumentar a produção de carne em 40% para suprir a demanda nacional e internacional. Como faremos isso? Esse é o passo que precisamos debater. Aquele passo para dentro da porteira, baseado nas tendências de mercado, focado na gestão, na sucessão”, ponderou o presidente da Angus, Nivaldo Dzyekanski.
Presente na mesa de debates, a gerente nacional do Programa Carne Angus Certificada, Ana Doralina Menezes, destacou que a profissionalização é o caminho para uma produção pecuária focada em gestão, qualidade, produtividade, rentabilidade e sustentabilidade.
“É preciso, sim, ter um negócio na ponta do lápis, precisa-se ter gestão” — Ana Doralina Menezes
“Foi-se o tempo em que os negócios no campo eram conduzidos apenas com o feeling do produtor. É preciso, sim, ter um negócio na ponta do lápis, precisa-se ter gestão. E essa mudança no jeito de pensar refletiu muito no projeto das famílias e traz a possibilidade de que, no futuro, não seja necessário dividir as propriedades rurais”, afirma Ana.
Exemplo de profissionalização da pecuária
O exemplo exitoso de quem tem trabalhado bem a gestão e apostado na sucessão veio da GAP Genética, propriedade modelo em seleção e comercialização de reprodutores da raça Angus, localizada em Uruguaiana (RS). A empresa mantém um protocolo de sucessão desenhado pela própria família para manter a gestão em ordem.
Convidado do evento, o diretor comercial da propriedade, João Paulo Schneider da Silva, o Kaju, ressaltou que nesse processo a família usa uma métrica muito importante: a felicidade por hectare. “Nada mais é do que a vontade de uma pessoa de juntar uma família e dizer: ‘nós só seremos felizes e bem-sucedidos se mantermos todos juntos e felizes’. E esse é o ponto inicial para um processo de sucessão”, explicou.
“O sucedido precisa ter uma cabeça aberta a fim de prover esse processo” — João Paulo Schneider da Silva
Marido de ngela Linhares da Silva, uma das filhas do patriarca Eduardo Macedo Linhares, Kaju contou que tudo começou ainda nos anos 1980, quando Linhares formatou um projeto claro de sucessão, transformando as fazendas em uma holding e, os herdeiros, em sócios. “Ele se deu conta muito cedo desse processo. Para termos boas chances como sucessores, primeiro o sucedido precisa ter uma cabeça aberta a fim de prover esse processo na família.”
Pecuaristas adotam modelo corporativo
O advogado Ricardo Gonçalves, CEO da Affectum, pontuou que não é por acaso que as propriedades rurais estão levando cada vez mais para dentro de suas práticas aquilo que é usual dentro do mundo corporativo, como o modelo de liderança. “O grande trabalho consiste em tentar construir um modelo que funcione para a família e que os interesses comuns se sobressaiam aqueles eventuais conflitos.”
Ele destacou, ainda, que apenas 5% das empresas conseguem chegar à terceira geração no comando. O que Gonçalves atribui, principalmente, à falta de liderança. “É um processo que não é para todos. O grande desafio é convencer o sucedido e ter pessoas que façam frente a esse desafio.”
“A maioria das fazendas esquece o planejamento sucessório e acabam com dificuldades” — Márcio Sudati
Segundo o presidente do conselho técnico da Angus, Márcio Sudati, os pilares da pecuária passaram por inovação nos últimos anos, e um deles foi a gestão, seja de processos, de pessoas e de recursos. “E é onde a maioria das fazendas esquece o planejamento sucessório e acabam com dificuldades quando isso ocorre”.
Sudati também trouxe em sua palestra as tendências para o futuro da raça Angus, como novas DEPs, novos selos (maternal e cruzamento) para seleção dos animais, identificação de doenças genéticas através da genômica e edições gênicas. “Acredito que as edições gênicas serão o futuro do melhoramento e vão contribuir muito para a evolução da pecuária brasileira e mundial.”