O verão no Hemisfério Sul seguirá sob influência do La Niña, segundo a última projeção da Agência de Meteorologia e Oceanografia Norte Americana (Noaa). O fenômeno é o terceiro mais intenso dos últimos 20 anos. Na última medição, a temperatura do oceano Pacífico Equatorial Central estava 1,2 °C mais baixa do que o normal. O La Niña de 2010 registrou desvio negativo de 1,7 ºC e no de 2007/2008, as temperaturas ficaram 1,6 ºC abaixo do normal.
A região Sul passa por uma estiagem prolongada, que mantém baixo o nível de reservatórios e compromete o desenvolvimento agrícola, como o milho no Rio Grande do Sul. Além disso, a demora na regularização da chuva no Sudeste e Centro-Oeste durante a primavera também esteve ligada ao resfriamento da água do Pacífico.
Embora o fenômeno La Niña deva prosseguir até pelo menos abril, seus efeitos na atmosfera serão vistos até meados de 2021, especialmente no Norte, com chuva acima da média.
Aliás, de acordo com o Instituto de Pesquisas Internacionais para o Clima e Sociedade (IRI), da Universidade de Colúmbia, para o trimestre janeiro-fevereiro-março, teremos chuva acima da média na costa do Sudeste, Pantanal de Mato Grosso do Sul e até mesmo na divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, além de boa parte da região Norte. Apesar disso, a precipitação não será frequente durante todos os três meses, principalmente no Sul, não sendo capaz de aumentar o nível dos reservatórios nessa região.
No Sul, a chuva acima da média acontecerá pela combinação de temperaturas mais elevadas do que o normal nas águas do Pacífico Sul e do Atlântico Sudoeste. O efeito do La Niña acaba compensado pela formação de alguns bloqueios atmosféricos no Pacífico Sul e frentes frias fortalecidas pela água mais quente na costa do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
Por outro lado, o interior de São Paulo, boa parte do Paraná, sul de Mato Grosso do Sul, norte de Santa Catarina e oeste da região Sul sentirão os efeitos clássicos do La Niña, com precipitação abaixo da média histórica.
Outra área que chama a atenção pela chuva abaixo da média é o Nordeste, região que normalmente recebe chuva mais intensa em períodos de La Niña. A questão é que para chover forte no Nordeste, há necessidade de uma combinação de temperaturas dos oceanos Pacífico e Atlântico. Apesar do Pacífico intensificar a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), responsável pela chuva em parte do Nordeste, a temperatura da água do Atlântico na costa norte do Nordeste não ficará elevada o suficiente para atrair o sistema para o continente. O resultado é que a chuva será intensa apenas sobre o oceano e fará com que o Nordeste tenha um trimestre mais seco do que o normal.
Entre o Sul e o Nordeste, temos boa parte do Sudeste e Centro-Oeste com chuva mais próxima da média histórica de janeiro a março.
A temperatura permanecerá próxima da média histórica na maior parte do Brasil. O calor acima do normal será visto no oeste e sul do Rio Grande do Sul, região Centro-Oeste e estados como Minas Gerais, Bahia, Tocantins e Pará. Por outro lado, o verão mais chuvoso do que o normal deixará o calor menos intenso no Amazonas e Roraima.
Entre abril e junho, ainda há previsão de chuva abaixo da média em boa parte da região Sul, oeste e sul de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Zona da Mata de Minas Gerais, região Nordeste, Tocantins, Pará e Amapá. Por outro lado, o fenômeno La Niña deixará o outono mais úmido que o normal em Mato Grosso, oeste e norte de Minas Gerais, Goiás, Rondônia, Acre, Amazonas e Roraima.
Fica a dúvida se a compensação será suficiente para o contemplar todo o ciclo da segunda safra de grãos do Centro-Oeste, já que o plantio da primeira safra aconteceu de forma muito tardia. O outono será uma estação de transição entre o verão com La Niña e o inverno neutro. Por isso mesmo, veremos alguns efeitos mais típicos da neutralidade especialmente em maio com queda acentuada de temperatura em todo o centro-sul do Brasil e o aparecimento das primeiras geadas mais amplas.