Doze anos após uma das maiores crises do sistema financeiro global, a economia brasileira e mundial volta a viver um momento de turbulência com o avanço do novo coronavírus. Em Brasília, após as restrições de acesso de pessoas ao Congresso Nacional, Câmara e Senado vão adotar votações por meio eletrônico para evitar mais atrasos na apreciação de projetos importantes, caso de algumas matérias de interesse do agro.
Parlamentares da bancada do agro apoiam a medida e afirmam que a produção e o fornecimento de alimentos no país continuam normalmente. Os reflexos no setor, em decorrência da disseminação do coronavírus, foram debatidos pelos deputados da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) Sérgio Souza (MDB-PR) e Zé Mário (DEM-GO), os entrevistados do Programa Direto ao Ponto deste domingo, 22.
De acordo com Sérgio Souza, o Congresso está pronto para contribuir no enfrentamento dessa crise.“Todas as medidas que couberam ao parlamento, o parlamento está disposto. O que o governo mandar nós vamos aprovar”, pontuou o deputado paranaense. Nesta semana, por exemplo, Câmara e Senado aprovaram o projeto de decreto legislativo que reconhece o estado de calamidade pública no país. No Senado, a votação do decreto inaugurou o sistema virtual de apreciação de matérias, situação inédita no Congresso. A medida, que vai durar até 31 de dezembro, permite que o governo tenha mais flexibilidade na execução do orçamento, aumentando o gasto público.
O deputado Zé Mário acredita que o agro deve ser o setor menos afetado da economia, porém, não está isento dos prejuízos decorrentes da pandemia. “Os impactos econômicos precisam ser muito bem avaliados. Muito produtos estão se preocupando em como quitar suas dívidas”, alertou ao mencionar financiamentos como os do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), que, segundo ele, têm vencimentos durante todo o ano.
O deputado goiano também destacou a função do Congresso para, além de aprovar medidas, buscar junto ao poder Executivo ações para combater os impactos negativos na economia. Zé Mário considerou importantes as medidas já anunciadas pelo Ministério da Economia, mas avalia que novas providências serão necessárias. “Vamos ter que nos aprofundar nisso, e esse é o papel do Congresso Nacional, de nós estarmos trabalhando, olhando essa situação para que essa dose de sacrifício seja dividida por todos, senão alguns setores podem ser altamente penalizados”, disse.
Por outro lado, Souza lembrou que a escalada do dólar ocorrida com o avanço dos casos do novo coronavírus aumenta a rentabilidade do exportador. “A soja brasileira é um produto bastante competitivo pela qualidade e preço, e o dólar elevado beneficia a exportação e esse setor do agronegócio”, disse.
De acordo com o boletim Estimativas de Safra, divulgado pela Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), das 120,6 milhões de toneladas que o Brasil produzirá na safra 2019/2020, cerca de 70% devem ser compradas pelos chineses. Conforme a entidade, a pandemia do Covid-19 não afetou as exportações brasileiras do grão até o momento. O país já comercializou antecipadamente 60% da safra 2019/2020 e 10% da safra 2020/2021.
Abastecimento
O cenário incerto diante dessa pandemia tem levado consumidores a uma corrida a supermercados de todo o país. “Nós não precisamos entrar em pânico. Eu não acredito que vá faltar alimento nas gôndolas dos supermercados. Não vejo nenhum risco de desabastecimento no estado do Paraná, no Brasil”, destacou Sérgio Souza.
“O Brasil é um país maravilhoso, nós produzimos safra para alimentar nossa população por seis anos”, acrescentou Zé Mário. Ele esclarece que a atividade no campo não vai ser paralisada e que o país continuará produzindo alimentos de qualidade e com segurança mesmo em tempos de crise. “O povo brasileiro vai sair dessa pandemia muito mais forte e maduro do que entrou”, concluiu.