Se o Brasil almeja a produtividade pecuária de leite de países como a Nova Zelândia, por exemplo, vê-se cheios de desafios a enfrentar. Segundo o especialista em agronegócio Benedito Rosa, o aumento de custo de produção permanentemente, os altos impostos e a burocracia são grandes travas do processo de modernização para o 1,2 milhão de produtores brasileiros.
Por outro lado, os neozelandeses se especializaram em alimentação, genética, manejo, chave para o sucesso nos negócios, segundo Rosa. Enquanto um pecuarista brasileiro médio produz em torno de 12 a 13 litros por dia, lá, a média vai de 25 a 30 litros.
“Ou nós encontramos um novo modelo de alimentação de gado como fizeram os neozelandeses, baseado em pastagens cultivadas ou fenação, ou vamos continuar enfrentando o horror da oscilação dos preços do mercado internacional do milho e da soja no uso das rações”, afirma Rosa.
Segundo o especialista, a Embrapa Leite tem programas como o Balde Cheio, que recomenda justamente o cuidado com a pastagem, como a irrigação por exemplo. O Senar também oferece cursos voltados para a área tecnológica e de gestão.
“Mas o custo de implementação não é baixo. E aqui temos uma tradição diferente, que vem da pastagem direto para a ração. Dá uma combinação ruim, porque, na chuva, temos muitas pastagens e, na seca, nos obriga a comprar muita ração se quiser manter.”
Outro fator abordado por Rosa é a característica heterogênea da produção brasileira. “Há nichos e faixas regionais do país em que a produção se modernizou rapidamente, no centro-sul, mas infelizmente há outra faixa bastante numerosa de pequenos e médios produtores, no Norte e Nordeste inclusive, com mais dificuldade, que não se enquadra no padrão de eficiência e não nos habilita a exportação”, analisa.
Mercado Interno
Para Rosa, o que não exporta se destina para o consumo no mercado interno. Todavia, a limitação do poder aquisitivo das pessoas é vista como uma trava para o crescimento das vendas dos bens processados, como queijos, iogurtes ou preparados infantis.
Outro fator ruim para a produção e indústria do leite é o suposto mito de que o produto não é ideal para o consumo. “Existe muito modismo, precipitação, artificialismo, falta de consistência científica nas informações que rodam nas redes sociais que prejudicam muito a imagem, não só do leite, mas de outros alimentos também.”
Segundo Rosa, cientificamente “não há nenhuma prova que o percentual de pessoas com reações negativas a lactose seja tão massiva como se fala. Instituições sérias dizem que somente 7% da humanidade não pode consumir leite”.
Compensa produzir Leite?
Para Benedito Rosa, é necessário paixão ao ofício. Hoje, segundo ele, a produção de leite para o médio e pequeno produtor significa incremento de renda e tem um caráter social. “As cooperativas do sul foram obrigadas a abrir um departamento de lácteos, para atender a demanda da região. É importante do ponto de vista social, traz uma estabilidade social.”
Mas é preciso ter em mente os problemas e paciência. “Ano passado, por exemplo, os produtores enfrentaram uma crise de oferta, com problemas climáticos, que levou a uma situação de pico de preço em torno de agosto do ano passado. Também houve uma avalanche de importação principalmente da Argentina e Uruguai”, explica. De acordo com Rosa, a consequência foi a queda do preço desde dezembro para R$ 0,90 o litro, quando chegaram a vender a R$ 1,70 em agosto.