A área plantada de soja no Cerrado pode dobrar sem a necessidade de derrubar nenhuma árvore. Essa é uma das principais conclusões de um estudo encomendado pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetal (Abiove) sobre a expansão do grão nesse bioma nos últimos 20 anos. Os resultados dessa análise geoespacial e o que representam para o agro foram tema do programa Direto ao Ponto deste domingo, 27. Segundo o gerente de Sustentabilidade da Abiove, Bernardo Pires, após realizar o monitoramento da produção da soja na Amazônia por 14 anos, a entidade e empresas associadas decidiram estender o trabalho para o Cerrado por uma questão de exigência do mercado.
“Muitos dos nossos consumidores na Europa exigem um produto sustentável, um produto que tenha origem, pelo menos, quanto ao cumprimento da legislação ambiental vigente no Brasil. É missão da Abiove e das suas empresas ter uma rastreabilidade do produto que é adquirido no campo”, argumentou. O gerente da entidade informou que 50% do farelo de soja comercializado por suas empresas associadas são destinados ao continente europeu. O mercado em valor do produto totaliza US$ 8 bilhões.
O estudo, explicou Pires, foi realizado durante um ano pela empresa Agrosatélite. Foram 31 especialistas em geoprocessamento que, com base nos dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), fizeram uma radiografia da evolução do grão no bioma, nessas últimas duas décadas, em todas as 90 mil fazendas de soja da região. Identificaram-se Houve o de onde e como a produção cresceu, áreas desmatadas, áreas de reserva legal e potencial de expansão em locais já abertos ou antropizados. Na avaliação de Bernardo Pires, os resultados foram surpreendentes.
“Cada vez menos áreas de vegetação nativa estão sendo convertidas, pois a expansão predominante vem ocorrendo em áreas já antropizadas”, afirmou o gerente de Sustentabilidade da Abiove.
Conforme o estudo, 93% da expansão do grão nos últimos cinco anos (2014 a 2019) ocorreram áreas já abertas . Apenas 7% do aumento dos plantios ocorreram com supressão de vegetação nativa. O mesmo levantamento constatou que, entre 2001 e 2006, essa expansão da soja no Cerrado ocorreu em 27% sobre vegetação nativa e 73% em áreas antropizadas. De acordo com o Bernardo Pires, essa é menor taxa de desmatamento no Cerrado associada à produção de soja dos últimos 18 anos. “Ou seja, produzimos como nunca e conservamos cada vez mais”, disse.
Potencial
A análise geoespacial ainda avaliou quanto se poderia ampliar a produção de soja sem desmatar. “Chegou-se conclusão que temos 26 milhões de hectares de áreas já abertas com aptidão agrícola. Se, no Cerrado, há 18 milhões (de hectares), você pode mais do que dobrar hoje a área de soja no Cerrado sem precisar realizar nenhum desmatamento”, esclareceu Pires. A maioria de dessas áreas, ejeiohjeefepf, está em Essas novas áreas, pontuou o gerente da Abiove, são em boa parte pastagens abandonadas ou degradadas.
Hoje, 50% da soja brasileira é produzida no Cerrado. São 18 milhões de hectares no bioma que tem área total de 204 milhões de hectares, 53% preservados com vegetação nativa, como mostra o estudo.
Compensação
O mapeamento também incluiu as áreas excedentes de reservas legais dentro das 90 mil propriedades de soja situadas no Cerrado. O estudo revelou que há 20 milhões de hectares em áreas de reservas legal e áreas de preservação permanente. Há outros 4,4 milhões de hectares com excedente de reserva legal em áreas de média e alta aptidão agrícola, afirmou Bernardo Pires. O Código Florestal vigente exige que o produtor preserve 20% do seu imóvel que esteja no bioma . Esse percentual sobe para 35% de estiver localizado nas áreas de transição entre Cerrado e Amazônia.
Esses dados foram avaliados, como explicou o gerente de Sustentabilidade da Abiove, com o intuito de montar um programa de pagamento por serviços ambientais. De acordo com ele, essa compensação para quem preserva além do que determina a lei está em negociação com empresas europeias. “Tem na Europa 180 empresas que assinaram com o príncipe Charles o manifesto do Cerrado que teriam o potencial de colocar esses recursos”, disse. “O produtor está preservando além da lei. Então nossa preocupação de manter preservado esse excedente de vegetação nativa nas fazendas”, acrescentou.
Além desse trabalho de construir um programa de compensação ambiental, Pires deixou claro que a entidade é contrária a uma moratória da soja no Cerrado – ao contrário do que já ocorreu na Amazônia há 14 anos. Naquela época, pontuou, não havia imagens de satélite de alta precisão. “Hoje, sabemos exatamente o que está acontecendo nas unidades de conservação, áreas indígenas, áreas embargadas pelo Ibama,. E moratória no Cerrado não faz o menor sentido. O que nós estamos agora lutando e pedindo o apoio dos produtores é que nos auxiliem no combate ao desmatamento ilegal”, finalizou.