As tentativas do Partido dos Trabalhadores (PT) para tirar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da cadeia e garantir a presença dele nas eleições de outubro deste ano podem não surtir efeito algum, segundo o cientista político Leonardo Barreto. Em entrevista ao programa Direto ao Ponto, ele relata que as chances de Lula ser candidato são mínimas e que a influência dele para transferir votos a outro nome da sigla, preso ou solto, também será ineficaz.
Ele critica a estratégia adotada pela legenda de ir contra as decisões do poder judiciário. Segundo Barreto, três fatores principais complicam o sucesso do PT e de Lula, mesmo em caso de transferir votos.
O primeiro é o fato de o ex-presidente estar preso e condenado, o que impediria de acompanhar o indicado nos palanques; mesmo solto, teria restrições. O segundo fator é o perfil do substituto.
Jaques Wagner tem força na Bahia, mas enfrenta problemas judiciais; Fernando Haddad não conseguiria decolar no Nordeste e o terceiro é o fato da própria ineficácia da imagem de Lula. “Acho difícil transferir a carga. Lula vai pedir voto pra alguém? Ele já fez isso pra Dilma e isso não foi uma experiência boa. Eu acho que as pessoas vão se lembrar disso”, afirmou.
Tentativa de soltura e guerra com judiciário
Outro ponto criticado pelo cientista político é a guerra contra o poder judiciário. Segundo Barreto, a tentativa de soltar o ex-presidente Lula em um domingo, com decisão monocrática de um desembargador de plantão, escancarou isso. “Tivemos por parte do PT menos uma tentativa de realmente libertar o Lula e mais uma estratégia de expor o judiciário”. Ele também fala do clima perigoso criado para o próprio candidato do partido com esse discurso de vitimização em relação à justiça. “Para sustentar a narrativa de perseguição, o candidato sendo eleito vai perseguir o judiciário, o Sérgio Moro, os procuradores em Curitiba? A população é contra isso”.
Mesmo criticando a decisão do desembargador do Tribunal Regional Federal da 4ª Região de soltar Lula, Barreto faz uma análise mais ampla do cenário atual entre a Justiça e a política brasileira. “Não pode ser encarado como ato isolado de um desembargador aloprado, ele teve exemplos de cima, de tribunais superiores, que deram segurança para ele fazer o que fez. É um momento de grande fragilidade que nos deixa em situação perigosa. Sem um Poder Judiciário crível e neutro, não temos nada”.
- TSE pode decidir no recesso sobre pedido para declarar Lula inelegível
- Juiz absolve Lula em caso de obstrução de Justiça
Apoio à Lava-Jato
Outro fato importante que deve ser levado em conta para a campanha que se inicia, segundo o cientista político, é o apoio da população à Operação Lava-Jato. “Hoje, a Lava-Jato, goste ou não, é patrimônio das pessoas. Estatísticas mostram que 60% das pessoas acham que ela tem que continuar a despeito de qualquer coisa prejuízo econômico. De 2014 a 2018, vivemos uma tragédia econômica, com a pior recessão, que poderiam vincular à Lava-Jato. Mas, pelo contrário, as pessoas não arredam. Temos empresas quebradas, pessoas desempregadas e o pessoal não afastou um centímetro do apoio que dá à Lava-jato”, disse.
Apesar de considerar isso positivo, Barreto afirma que esse sentimento “emburrece o processo eleitoral”, pois o combate à corrupção vira a pauta única da sociedade. Mas ele ressalta que, com o início da campanha, o fluxo de informações aumenta e outros assuntos importantes devem voltar à discussão.
“O combate à corrupção que hoje resume a principal item da agenda das pessoas emburrece o processo eleitoral, porque tem outros temas que deveriam estar no topo e não estão, como a reforma da previdência, a economia, a questão fiscal ou necessidade de investimentos”.