O vazio sanitário da soja em Goiás acabou no dia 1º de outubro, mas o plantio está começando com atraso. De acordo com o presidente da Aprosoja-GO, Bartolomeu Braz, o estado passou por 120 dias sem chuva e só nesta semana elas começaram a aparecer, mas não o suficiente. “Se o La Niña se confirmar, poderemos ter crise hídrica no sul do estado”, afirma. Ele é o entrevistado do Direto ao Ponto deste domingo.
Além da intempérie climática, o produtor goiano enfrenta as dívidas. “Fizemos um levantamento nesta semana e descobrimos que os custos de produção baixaram, mas o poder de aquisição caiu muito também. Estávamos trabalhando com a expectativa de uma soja em R$ 65 a R$ 75, mas o preço está em R$ 50 e R$ 60”, afirma.
De acordo com Braz, o produtor está com dificuldades de fechar essa conta. “O endividamento está tanto na produção quanto no investimento. E ele acaba virando refém da tecnologia aplicada já há várias safras”, diz. Por isso, segundo ele, é preciso buscar outras ferramentas, como a troca para conseguir fazer o plantio.
“Eu acredito que, com os números que a gente tem, é preciso haver política mais bem definida, com tempo maior, com lei plurianual, com seguro que venha oferecer o que o produtor quer, não por imposição, mas que seja viável para a produção, com a segurança alimentar”, afirma. Para ele, é preciso que o governo e os parlamentares atuem em prol dessa situação crítica do produtor.
Funrural
A Aprosoja vai entrar com embargo de declaração no STF no julgamento do Funrural. O prazo é até o dia 10 de outubro, próxima terça-feira. De acordo com Braz, a entidade entende que a votação de março do Supremo foi “política” e que ainda há possibilidades de reverter a decisão com a modulação do julgamento.
“Já estamos preparando os embargos infringentes e daqui pra frente ainda podemos discutir na Medida Provisória”, reitera Braz. O presidente da entidade afirma que a ideia é, no STF, conseguir o perdão das dívidas para os produtores com liminares, tendo como argumento o fato de que estão baseadas numa lei que já foi considerada inconstitucional. Para isso, a Aprosoja pretende usar o Projeto de Resolução da senadora Kátia Abreu, aprovado recentemente.
Braz afirma, contudo, que nada está definido e, por isso, pode haver na discussão da MP no Congresso Nacional a inclusão da alternativa de pagamento por folha, além da comercialização bruta vinda por emendas. “Estamos buscando uma alternativa em que o produtor possa daqui pra frente, dentro da sua cadeia produtiva, optar pela medida provisória do Funrural ou pela folha”, fala.
“O empenho nosso terá que ser cada vez mais presente em Brasília. Até mesmo visitando os membros do Supremo Tribunal Federal para que possamos mostrar pra eles esse entendimento. Com os votos que saíram no acórdão, entendemos que provavelmente alguns juízes vão mudar de opinião”, explica.
No entanto, Braz diz que, caso as coisas não aconteçam como o setor pretende, é preciso entender que o pagamento dos passivos terá de acontecer, como descrito na medida provisória. “Pedimos que o produtor confie, pois estamos trabalhando”, finaliza.