O ex-ministro-chefe da Controladoria-Geral da União Jorge Hage avalia que o sucesso da Lava-Jato é fruto de um trabalho anterior baseado na criação de legislações mais rígidas e medidas de transparência eficazes. Mesmo assim, ele aponta falhas na operação e afirma que o combate à corrupção no Brasil ainda precisa avançar muito. Em entrevista ao programa Direto ao Ponto, Hage afirma que tentou, junto ao Ministério da Educação, colocar as medidas anticorrupção no currículo escolar brasileiro. Ele também critica a forma de escolha de ministros de tribunais superiores de Justiça.
“Eu considero a Lava-Jato um marco de extrema importância para o combate à corrupção no Brasil. Reconheço também, porque não sou cego, os erros, os desvios, os exageros de muitas medidas que foram tomadas em nome desse combate à corrupção. É preciso respeitar as garantias processuais, o direitos das pessoas, e em alguns casos isso tem sido atropelado”, disse. O ex-ministro avalia como positiva, mas dá apenas nota 7 para a operação. “Passou de ano, mas está alertado de que não ganhou o 10, que ainda falta muito para a performance 100% merecedora de aplauso”.
Hage destaca os avanços alcançados pelo Brasil no combate à corrupção nos últimos anos, mas ressaltou a necessidade de engajamento cada vez maior do cidadão para fortalecer essas ações. A principal tarefa, segundo ele, é começar agora, ainda mais em ano eleitoral, a conhecer os compromissos das figuras públicas, cumprir o direito do voto e, em seguida, fiscalizar permanentemente as práticas governamentais.
“Contexto de todo um instrumental de combate a corrupção que foi construído nos últimos anos no Brasil, com a legislação que criou institutos novos, como colaboração premiada, ações controladas, infiltração de agentes nos grupos criminosos, a lei anticorrupção, a lei de leniência, estímulo ao compliance, uma série de medidas que habilitaram o país a ter investigações que realmente detectem e descubram coisas que sempre existiram, mas que ficavam debaixo do tapete e nunca eram reveladas”.
Hage chefiou a CGU durante oito anos e meio, entre 2006 e 2014, e foi responsável pela criação e implementação de importantes leis, como a da Transparência e do Acesso à Informação. Ele também é contra a forma de escolha de ministros de tribunais superiores de Justiça. Para ele, as regras atuais são genéricas e não cobram a experiência necessária para ocupar os postos, como ocupação de cargos na magistratura ou no Ministério Público. Além disso, a indicação pela Presidência da República enfraquece as medidas anticorrupção de um modo geral, acredita o ex-ministro.