A produção de borracha no Brasil foi o tema do programa Direto ao Ponto deste domingo, 6. O convidado para falar sobre o assunto foi o diretor-executivo da Associação Brasileira de Produtores e Beneficiadores de Borracha Natural (Abrabor), Fernando do Val Guerra. Ele explica a origem e o significado da palavra heveicultura.
“A atividade dos seringueiros, dos seringalistas, está na heveicultura. O nome científico da seringueira é Hevea brasiliensis, daí é quem vem a palavra”. Guerra complementa: “Ela [seringueira] é nativa da região amazônica”.
A produção de borracha natural no Brasil começou ainda no século 19 e ganhou força no período histórico conhecido como Ciclo da Borracha. Desde o fim desse ciclo, no início do século 20, o Brasil perdeu expressão no cenário mundial da borracha natural. Depois do boom brasileiro, a Ásia foi o destino dos seringais, que se adaptaram bem ao clima, parecido com o da Amazônia. O continente tornou- se o principal produtor e atende a quase toda a demanda internacional, afirma o diretor da Abrabor.
“Hoje, a Ásia detém acima de 92% da produção mundial de borracha, e o Brasil ficou com 1,5% dessa produção. O Brasil demorou para descobrir onde e como produzir borracha”, diz .
De acordo com Guerra, durante o Ciclo da Borracha, algumas ideias de cultivo não foram bem-sucedidas devido às pragas da seringueira. Em seu habitat natural, afirma, as seringueiras estão espaçadas por distâncias de até um quilômetro, o que dificulta uma epidemia nas árvores. Mas, durante o período de ouro da borracha brasileira, alguns seringais foram dizimados, pois não havia esse distanciamento natural e as pragas estavam em habitat natural.
Com as frustrações do cultivo intensivo na região Norte, apenas na década de 1980 o país se voltou aos seringais de forma mais enfática. A borracha começou então a ser produzida no Cerrado. “O Brasil, da década de 1980 pra cá, descobriu como produzir borracha em seringais de cultivo no Cerrado, que é um bioma completamente diferente do bioma amazônico e do bioma onde ela é plantada na Ásia”.
De acordo com o diretor, hoje a produção brasileira de borracha se concentra no norte de São Paulo e na divisa desse estado com Mato Grosso do Sul. Mas há também produções em outras partes do país.
“Hoje você tem 58% da produção no norte de São Paulo e Mato Grosso do Sul, encostado em São Paulo, como uma fronteira agrícola. Minas, na divisa com São Paulo, é uma forte fronteira agrícola. Outros estados são: Goiás, com seringais comerciais de grande escala; sul e norte do Tocantins; e plantações tradicionais em Mato Grosso, no Espírito Santo e na Bahia”, disse Fernando do Val Guerra.
Produção certificada
O objetivo inicial da Abrabor, de acordo com o dirigente da entidade, era entender o mercado internacional e adequar estratégias para o Brasil.
“A gente fundou a associação brasileira e começou a ir para a Ásia entender como é que funcionava a cadeia produtiva mundial da borracha e como a gente iria montar a nossa estratégia aqui no Brasil para dar longevidade e rentabilidade ao produtor brasileiro”, disse.
“A gente percebeu que havia uma demanda enorme no mundo por uma borracha certificada, por um produto certificado, e que esse produto não existia, e não existe ainda hoje, em escala no mundo. A oferta é mínima desse produto certificado”.
Guerra dá uma dica para quem deseja começar a mexer com essa produção. Ele disse que é preciso ser uma pessoa boa para lidar com outras pessoas.
“No caso da seringueira, se você tem afinidade para trabalhar com gente, excelente. Se você não pode mexer com gente, procure outra atividade porque é uma atividade intensiva de pessoal”.
*Sob supervisão de Letícia Luvison