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'Os produtores rurais têm de bater panela'

Ex-presidente da Aprosoja Brasil, Marcos da Rosa diz que é preciso maior engajamento para alcançar as mudanças necessárias, como na lei de registro e uso de defensivos agrícolas

Fonte: Reprodução

O gaúcho Marcos da Rosa, agricultor e pecuarista em Canarana (MT), deixou a presidência da Associação Brasileira dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja Brasil) na última semana, cargo que ocupou desde 2016. Em entrevista ao programa Direto ao Ponto, ele destacou problemas enfrentados pelos sojicultores do país e a visão dele sobre o funcionamento da política brasileira, com a experiência obtida à frente da entidade nos bastidores de Brasília durante dois anos.

Em conversa franca e aberta com o apresentador Glauber Silveira, o ex-presidente da Aprosoja avaliou que é necessário maior envolvimento e engajamento político da população em geral, mas principalmente dos produtores rurais, para que seja possível mudar o atual sistema de poder instalado no país.

Na visão dele, é preciso unir forças e trabalhar em coletividade para alcançar as mudanças necessárias, como na lei de registro e uso de defensivos agrícolas, uma das principais pautas do momento.

“Muitas leis estão defasadas de acordo com a realidade atual. A lei de defensivos é engessada. Há moléculas novas e evoluídas que demoram até nove anos para serem liberadas, enquanto o resto do mundo já usa, como Japão, EUA, Austrália. Fomos olhar na Austrália uma maneira segura e rápida de fazer liberações. Isso vai trazer rapidez sem perder a segurança. A análise vai ser mais rápida, com Anvisa e Ibama participando do processo coordenado pelo Mapa, dentro dos parâmetros legais, mas com rapidez, para termos alimentos cada vez mais seguros.”

Importância do IPA

A experiência nos gabinetes e corredores de Brasília faz Marcos da Rosa ressaltar a importância do Instituto Pensar Agro (IPA), que reúne 40 entidades do agronegócio nacional (a Aprosoja é uma delas) e dá todo embasamento técnico para a construção de políticas para o setor, com diálogo e consultoria direta à Frente Parlamentar da Agropecuária.

Criado há apenas 13 anos, tem dado suporte para o setor agropecuário em um ambiente político conturbado. “Somos muito jovens, mas com evolução em curto espaço de tempo. Estamos começando a entender. Hoje satisfazemos a necessidade da China em soja em 65%, estamos negociando com uma cultura milenar, e nós com nossas associações estamos lutando apenas há 13 anos”, diz ele.

“Estamos crescendo e melhorando. Existe um sistema que comanda tudo, e o IPA é uma infiltração no sistema, é a água na pedra dura. O sistema está estabelecido, o jogo pela falta de cultura e o poder pelo poder prejudica o Brasil. A desinformação dos parlamentares é grande, falam inverdades, sem conhecimento.”

Na visão dele, esse poder se instala pela falta de conhecimento, induzindo pessoas ao erro e isso tem que terminar. “O IPA vem pra ajudar nosso setor nisso, aprendendo a ter interlocução com pessoas que serão eleitas. Isso dá qualidade e segurança de ter um Brasil melhor.”

Política

A proximidade das eleições traz as discussões sobre o futuro político do país cada vez mais à tona. Para Marcos da Rosa, há de uma variedade grande de nomes na disputa presidencial, mas o eleitor e, principalmente, o produtor rural parecem muito acomodados.

“Existe um sistema, o país é fatiado. Determinado grupo do poder cuida de determinado setor e assim por diante. Esse fatiamento é que tem que acabar, e esse trabalho que fazemos acaba influenciando positivamente. O que falta é bater panela ou ir pra praça. Não tenho visto produtor bater panela e é preciso bater. Quando vamos fazer mudança necessária que mexe no poder estabelecido, eles são contra a gente. Essa é hora de sair na rua e bater panela.”

Safra 2017/2018

Apesar de uma colheita farta e de aumento recente nos preços da soja, Marcos da Rosa ressaltou que falta remuneração aos produtores de todo o país e isso atrapalha até mesmo a sucessão familiar na atividade.

“O grande problema é a rentabilidade. A média não é ruim. Mas os custos progrediram. Nos preços que fomos vendendo, antes da melhora em função da seca na Argentina, não há remuneração, não há renda. Mesmo produzindo bem, a renda não é boa. É um dos problemas dos vários itens que temos que atacar. Estimular filhos e família sem renda não tem jeito.”

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