Em um momento em que o agronegócio desponta como uma atividade econômica rentável para tirar o país da crise, especialistas afirmam que os entraves ambientais do Brasil só poderão ser superados quando ambientalistas e produtores rurais entenderem que ambos os lados precisam ceder. Nesse sentido, para o doutor em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília, Paulo Celso dos Reis Gomes, o Código Florestal foi um avanço porque trouxe o debate para a sociedade civil.
“Ficar disputando território e ações na justiça, como se tivesse uma linha divisória de embate entre ambientalistas e produtores não faz ninguém ganhar nada”, reflete Gomes. Para ele é necessário evitar conflitos judiciais e tentar trabalhar juntos em prol de um objetivo comum.
De acordo com o especialista, a implementação da legislação nos municípios é onerosa e não há orçamento compatível com as demandas elaboradas pelo Código Florestal. Tal complicação financeira também chega ao âmbito privado. Por isso, a solução seria já colocar a questão ambiental no plano de negócios.
“A pior forma é encarar as questões ambientais como um custo. Temos que tentar colocar na cabeça dos produtores rurais que eles têm que transformar isso num investimento, num negócio que seja rentável. Há várias iniciativas, como por exemplo, o turismo rural. É um negócio dentro de outro negócio.”
Além disso, o professor diz que não existe uma fórmula pronta. Ccada produtor precisa descobrir em sua região o melhor arranjo produtivo, com benefícios para a sua propriedade. “Várias linhas de pesquisa mostram que já dá para fazer uma agricultura ligada aos serviços ecossistêmicos. Hoje já é possível vermos algumas culturas misturando cacau com soja, cacau com pasto para gado, feijão. Então você faz esses serviços agroflorestais e consegue ter um resultado melhor”, explica.
Outras alternativas seriam o uso consciente da água, redução de energia elétrica e investimentos na área de ecoturismo. “É preciso olhar para aquele espaço e pensar: quais ações compensatórias eu consigo fazer aqui, mas que me ofereça exploração comercial disso?”, questiona.
Para Gomes a palavra chave dessa equação é sustentabilidade, focando em três pilares: econômico, ambiental e social. De acordo com o especialista, apenas no pilar econômico é valorizado e os outros são deixados de lado. “O que precisar se feito é colocar essa vertente ambiental também no processo de decisão”, afirma.
Passivo ambiental
O especialista afirma que toda a legislação vigente, como a Política de Meio Ambiente de 1981, a Lei de Crimes Ambientais de 1997, a Política Nacional de Resíduos Sólidos 2010 tem afunilado a responsabilidade sobre os passivos ambientais. “A responsabilização é de quem tinha a responsabilidade de resolver aquilo. Se você tem um terreno, e você gerou passivo ambiental, o problema é seu”, explica.
O professor diz também que “se você adquiriu um terreno com passivo ambiental, fez todo um trabalho de transferir esse imóvel para o seu nome, mas não fez essa contabilidade ambiental, esse passivo ambiental é seu também”. É possível até ir à justiça, mas o que vai se discutir é a responsabilidade de ambos, nunca se eximir da culpa.