No ano passado, a piscicultura brasileira cresceu 8% e fecho 2017 com a produção de 691 mil toneladas de peixes cultivados, segundo presidente da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), Francisco Medeiros. “Desse total, pela primeira vez na história do Brasil, uma espécie específica, a tilápia, correspondeu a 52% de tudo que produzimos no ano de 2017”. afirma.
Medeiros participou do programa Direto ao Ponto deste domingo, dia 29, e falou sobre a oferta por esta espécie de peixe que avança em todas as partes do mundo. “É uma tendência forte e, quando falamos em tendência, a curva de crescimento da tilápia no Brasil é assustadora e, provavelmente dentro de 5 anos, estaremos com 70% da nossa produção voltada para a tilápia.”
Segundo Medeiros, o motivo de a tilápia ser um peixe tão especial é a fácil criação. Por ser uma espécie doméstica, ela permite colocar de 150 a 200 peixes por metros cúbicos em tanque rede, pois irá se adaptar ao ambiente facilmente. Em função dessa fácil adaptação, atualmente a espécie está presente em 140 países.
“O segundo item de importância da tilápia é possuir um filé sem espinhos, diferente da nossa matrinchã e jatuarana, que possuem quantidade absurda de espinhos, colocando em risco nossa saúde. É um filé e não tem um sabor próprio como um tambaqui, por exemplo, e por isso é possível usar qualquer tempero na tilápia. É um peixe que adapta à culinária do mundo todo e esse é um fator comercial importante”, explica.
Medeiros fala de um terceiro fator que torna essa espécie tão promissora: “Existe um pacote tecnológico para a produção de tilápia, temos empresas pelo mundo que trabalham com o melhoramento genético, conhecemos todas as necessidades em termos de aminoácidos e vitaminas. Então sabemos exatamente o que ela quer comer, como se comporta nos diversos ambientes. Temos vacinas para suas enfermidades, então conhecemos todo o protocolo de produção, o que nós fazemos é apenas adaptar esse protocolo em determinadas regiões.”
Mercado
Vários fatores contribuíram para colocar a tilápia entre os peixes mais produzidos do mundo, e claro as potencialidades do mercado estão entre elas.“Hoje, o que nós exportamos para a Europa, é pele de Tilápia. A pele é rica em colágeno e esse produto vai para a indústria farmacêutica e alimentícia.”
No Brasil, muitas pessoas têm o hábito de retirar a pele antes de comer, entretanto Medeiros explica que, entre o filé e a pele existe um armazenamento de gordura, e é exatamente aí que está o Omega3 e Omega6. Então, ao retirar a pele você retira a gordura que é o que irá nos proporcionar os benefícios.
Mesmo com uma grande demanda, o peixe no Brasil, ainda está caro. Medeiros fala sobre a expectativa em mudar esse cenário.”Hoje trabalhamos para que todo filé de tilápia seja vendido com preço igual ou inferior ao coxão mole. Trabalhamos com essa meta, para que depois possamos ganhar alguns índices de competitividade. Precisamos de cerca de cinco anos para ganhar de 10% a 15% de competitividade no nosso produto. A tendência é que a médio e longo prazo, esse produto diminua o preço”, comentou.
Diversos peixes no Brasil, possuem uma enorme quantidade de espinhos, ao ser questionado se é possível diminuir os espinhos através de melhoramento genético, Medeiros explica que estudos vêm sendo realizados pela Peixe BR e Embrapa Pesca e Aquicultura para que isso seja viável. “ Isso é possível e deve acontecer, mas nada menos que antes de uma década”, conclui.