Em 2021, a economia mundial foi marcada pelo avanço da inflação, em todos os setores, inclusive nos alimentos. Dessa vez, a elevação dos preços não foi impulsionada pelo excesso de demanda, mas pela escassez de oferta em vários setores que interromperam sua produção por causa da pandemia. Aqui no Brasil, foi um ano complicado para o consumidor e para o produtor também.
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Neste segundo ano de pandemia, as medidas restritivas foram reduzidas e, aos poucos, a economia começou a dar sinais de reação. A taxa de desemprego, por exemplo, recuou de 14,9% em 2020 para 12,6% no final de 2021. Mesmo assim, ainda atinge 13,5 milhões de brasileiros.
“O setor de serviços conseguiu funcionar bem melhor esse ano do que funcionou em 2020. Naturalmente isso tem reflexos no mercado de trabalho. A taxa de desemprego caiu ao longo de todo o ano, mesmo já fazendo os ajustes sazonais. Não caiu tanto quando a gente gostaria, mas de certa forma a situação melhorou. E do outro lado merece destaque a dinâmica da inflação, para o nosso setor principalmente a inflação de alimentos”, destaca o pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Felippe Serigati.
As principais commodities seguiram em patamares elevados no mercado internacional, como a soja e o milho, o que causou forte impacto no custo de produção de toda a cadeia de proteína animal. No Brasil, os preços das carnes dispararam e o consumo interno caiu. Já as exportações bateram recorde, graças principalmente ao câmbio favorável. A inflação chegou aos dois dígitos, algo que não se via desde 2015.
“Essa inflação vem muito mais não porque a demanda está aquecida, mas por um conjunto grande de erupções do lado da oferta. Nós estamos com escassez e falta de containers em alguns países. No segundo semestre tivemos quebra de safra, dificuldade de produzir energia elétrica. Nós estamos falando de um grupo muito grande de obstáculos que acabaram atingindo diversas cadeias produtivas. Infelizmente o universo agro aqui no Brasil não passou ileso com esses problemas”, avalia Serigati.
A situação fiscal do governo também refletiu no mercado e provocou um ano de volatilidade no dólar e na Bolsa de Valores. O desempenho do agro em 2021, não cresceu como em 2020, mas neste caso tem uma explicação.
“O agro não teve aquele fenômeno de recuperação porque ele não contraiu em 2020. Além disso, o setor foi prejudicado por questões climáticas. Se a gente for considerar que o agro não tem uma base estreita como tem o setor da indústria e de serviços que contraíram em 2020, fica a sensação de que o agro não foi tão bem como a gente imagina, mas isso está mais ligado a fatores de fora do setor, como por exemplo, o bom humor ou não de São Pedro”, diz.
Como vai se comportar a economia em 2022?
O cenário da economia para o próximo ano ainda deve ser desafiador. A previsão de crescimento do PIB é de apenas 2%, menos da metade em comparação a 2021. Segundo Felippe Serigati, a inflação ainda seguirá em patamares elevados e o poder de compra das famílias brasileiras será menor.
“2021 está entregando para 2022 algumas situações desconfortáveis, entre elas uma inflação elevada e domicílios com menor renda e menor poder de consumo. O Banco Central para tentar resolver esse problema está fazendo um forte aperto monetário. Isso vai significar para 2022 crédito mais caro, menor liquidez, ou seja, não vejo no lado monetário um fôlego maior para o crescimento”, destaca.
Como não poderia ser diferente, o cenário político também terá um peso sobre a economia em 2022.
“Vamos passar por um processo eleitoral e como nós vimos pelo menos nas duas últimas eleições para presidente e para governos estaduais, certamente a gente vai ter bastante turbulência ao longo do caminho e isso vai se traduzir num dólar bastante nervoso, que deve oscilar bastante ao longo do ano ou até um ponto em que o cenário eleitoral já fique mais consolidado”, projeta.
O setor agropecuário, também deve viver um ano desafiador, segundo os especialistas. Apesar de mais uma produção recorde de grãos, com uma safra de 291 milhões de toneladas, alguns setores vão continuar sofrendo o impacto do custo de produção que pode comprometer a rentabilidade em 2022.
“Tirando algumas regiões do Sul, onde o cenário está mais favorável este ano, a gente tem um enorme ponto de interrogação em relação aos custos de produção do setor. Fica a dúvida se o setor terá acesso na quantidade necessária dos insumos. Se tiver acesso, a que custo? A relação de troca compensará para o produtor realizar a sua safra em toda a área planejada? Em outras palavras, o agro não se defrontou pelo menos nas duas últimas safras, com essa questão de custos tão altos. Então nós temos em 2022 uma situação nova, um obstáculo novo para o nosso setor digerir”, finaliza.