Para reduzir os gastos com energia elétrica, avicultores de São Paulo têm investido no uso de biodigestores. O sistema tem custo de implantação alto, mas sua utilização permite uma economia de até 75% com eletricidade.
A busca por redução de custos é uma constante na rotina do criador de aves e de gado bovino Ivan José Casarin, de Saltinho (SP), o que acabou por leva-lo à adoção do biodigestor. Na engorda de frangos, realizada em três galpões, o gasto com insumos, equipamentos e funcionários é de quase R$ 20 mil mensais.
“Primeiro, procuramos mão de obra especificada para baixar custos e para melhorar a produção do aviário, tentando reduzir cerca de 5% a 6% do nosso custo mensal. Outra alternativa foi aquecimento. Antigamente nós utilizávamos lenha, passamos para o óleo diesel, só que ele também está sendo um vilão do frango. E aí nós procuramos o digestor para mudar o fornecimento de energia elétrica”, conta Casarin.
Antes da implantação do biodigestor, a conta de luz correspondia a 60% dos gastos da propriedade, com faturas que chegavam a R$ 8 mil. Atualmente, elas não passam de R$ 2 mil.
“A redução de custos vai acarretar uma receita maior no final do ano. Com isso, queremos fazer ampliação dos galpões aviários, produzir melhor plantel de gado, melhor plantel na avicultura, melhorar a qualidade do nosso produto”, afirma.
O processo de implantação do sistema biodigestor não foi rápido, nem barato: levou quase um ano e meio e custou cerca de R$ 1 milhão. No entanto, o avicultor entende que o custo-benefício proporcionado compensa o investimento. Em apenas quatro meses de funcionamento, cerca de R$ 100 mil já teriam sido recuperados, diz.
“Já reduzimos um bom valor do total que consumimos mensalmente. Além disso, o biodigestor também proporciona a melhora da pastagem, onde temos maior concentração de rebanho por hectare”, conta Casarin.
De acordo com Julio Cesar Silva, da empresa que fez a instalação do sistema, o tempo de construção e retorno do capital aplicado variam de acordo com o tamanho da propriedade e o objetivo do projeto. “Quanto mais energia você gera, maior é o benefício”, diz.
O uso de biodigestores na pecuária não é novidade, mas o processo feito pelo avicultor paulista é inédito: não há registro da utilização da cama de frango para a geração de energia em outro lugar do Brasil.
Depois que as aves são encaminhadas para o abate, a cama de frango é retirada e levada para um galpão. O material passa por uma esteira e cai em uma caixa de diluição com água de chuva armazenada da chuva em um lago artificial. Resíduos sólidos e líquidos são então novamente separados para virarem compostos orgânicos. O líquido vai para uma estufa, onde acontece o sistema de biodigestão, com a produção de biogás para geração de energia elétrica e térmica, usada para aquecer os pintinhos.
Além disso, o líquido que resulta da mistura da água com a cama do frango no inicio do processo se torna um biofertilizante, jogado diretamente no pasto – mais uma economia para o produtor. “Isso melhora a capacidade do capim produzindo muito mais toneladas por hectare, dando mais alimento e assim conseguindo reter melhor o plantel”, explica Ivan José Casarin. Para gerar energia suficiente para um dia inteiro na propriedade utiliza-se 1,5 tonelada de cama de frango.
Atualmente, o produtor rural obtém por mês 62 mil quilowatts (kW). Desse total, utiliza 22 mil kW, ou 36%. O restante por enquanto não é utilizado. Casarin afirma que, por causa do custo de manutenção, não compensa manter o gerador ligado 24 horas. Mas esta situação deve mudar em breve, pois a concessionária do município já aprovou um projeto que vai permitir ao criador armazenar e vender a energia que produz.
“Eu quero vender esse excedente para a companhia, que é o futuro mais promissor do projeto, e ter uma receita maior no período mensal”, diz ele.