A produção de leite orgânico é mais cara, mas pode ser mais vantajosa para o pecuarista que resolver apostar na atividade, já que tem indústria pagando até 60% a mais, quase R$ 1, por litro de leite deste tipo.
O produtor Claudinei Saldanha Junior investiu em um pasto sem agroquímicos e no tratamento do rebanho com homeopatia, com alimentação em piquetes rotacionados, de acordo com o ciclo do capim. Segundo ele, a mudança na produção começou em 2013 e custa cerca de 40% a mais que a produção convencional. “A maior dificuldade foi a produção de volumoso para o inverno, no caso de silagem, que a produção é um pouco menor na produção orgânica. Até acertar a homeopatia no controle de carrapatos no rebanho a gente consegue superar isso, desde que o manejo seja correto”, disse.
A certificação como produtor orgânico só saiu em outubro de 2014, mas Saldanha garante que a mudança valeu a pena. Atualmente, toda a produção é comercializada para uma das maiores indústrias de alimentos e bebidas do mundo.
“Existe uma vontade genuína do produtor de produzir leite orgânico, pois há especializadas no tema, assim como também existem produtores de milho orgânico que querem entrar. Percebemos que, de alguma forma, está tudo muito fragmentado, então a Nestlé vem com esse grande papel de unir essas pontas e ajudar o produtor de uma forma técnica, científica e financeira para ele poder se capitalizar não só de investimentos, mas também de informação para que ele tenha essa possibilidade de produzir e desenvolver o leite orgânico na sua propriedade”, disse a gerente de desenvolvimento da Nestlé, Taissara Abdala.
A produção orgânica está em expansão no país e, segundo o Ministério do Meio Ambiente, o mercado cresce em média 25% ao ano. Neste segmento, o leite orgânico e seus derivados também ganham espaço. No entanto, mesmo com o investimento de grandes indústrias, a demanda ainda é maior que a disponibilidade.
“A disponibilidade do leite orgânico ainda é baixa no Brasil porque a cadeia do leite não vem sozinha. Ela precisa se alimentar do milho, da soja e agente tem que desenvolver esses setores junto com a cadeia do leite”, disse Taissara.
Para atender essa demanda, a ideia é conseguir um leque ainda maior de fornecedores orgânicos. Por enquanto 11 pecuaristas em conversão, um processo que demora até dois anos para ser concluído. Até agora, a empresa só conta com a produção de Saldanha, que com 43 vacas adultas e 37 em período de lactação, gerando em média 650 litros de leite por dia. Como a quantidade não é suficiente, acaba sendo misturada na fábrica com a produção convencional.
De acordo com o representante da Nestlé, no entanto, assim que o volume for satisfatório, haverá um processo exclusivo para a produção orgânica. “A nossa intenção é chegar em 30 mil litros por dia, que é praticamente o dobro da produção existente no Brasil”, comentou.
Como estimulo ao produtor, a empresa paga um prêmio pela qualidade e produção de leite orgânico. Enquanto o valor atual do litro em São Paulo gira em torno de R$ 1,50, os fornecedores orgânicos conseguem receber até R$ 2,40.
O contrato com o produtor orgânico é de longo prazo e baseado no indicador Cepea, levando em consideração os custos da produção orgânica. “O produtor é remunerado de acordo com o mercado e também sobre a qualidade dele. Quanto melhor a qualidade, mais ele recebe por esse leite”, disse Taissara Abdala.