Dois meses já se passaram desde a greve dos caminhoneiros e o setor produtivo continua sentindo os reflexos da paralisação da classe. A tabela do preço mínimo do frete, divulgada no fim de maio como parte das ações prometidas pelo presidente Michel Temer, continua a dificultar o transporte de produtos do agro.
Para o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Antonio Galvan, tanto o agronegócio quanto o setor logístico dependem um do outro. Mas reconhece que quando se está em uma atividade, e ela não traz o retorno esperado, é necessário que seja realizada uma mudança.
O representante, que participou do programa Direto ao Ponto deste domingo, dia 23, falou sobre os impactos do tabelamento do frete ao setor. Para ele, o problema está no atravessador, ou agenciador de carga.
“Não adianta brigarmos pelo problema porque eles querem transferir o impasse do caminhoneiro para nós. Temos que brigar pela causa, e ela está justamente no meio desse atravessador ou agenciador de carga, principalmente no retorno da grande maioria dos locais, especialmente nos portos, em que eles ficam com 50% até 70% do valor do frete para agenciar. Isso não tem cabimento”, enfatiza.
Segundo Galvan, uma forma de driblar a situação seria criar uma regulamentação que determina um percentual máximo para o atravessador. “Inclusive a sugestão saiu aqui do Mato Grosso. Tanto a deputada Tereza Cristina [presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária], quanto o deputado Valdir Colatto tentaram inserir o projeto dentro da Medida Provisória 832/2018, que se transformou em lei. A ideia é que se estabelecesse uma margem máxima de 10% para a empresa agenciar a carga, mas infelizmente as lideranças que estavam presentes não aceitaram’’, diz.
Ele explica ainda que foi sugerido pelo setor produtivo um credenciamento de caminhoneiros, seja autônomo ou de pequenas empresas, para companhias que demandam frete. “Quem pegar a carga direto do produtor ou da trading tem que transportar. Que seja proibido terceirizar o frete. O que está acontecendo é isso: as empresas pegam as cargas e terceirizam a logística”.
Liberdade do mercado e alternativas
Galvan também falou da importância do livre comércio para o setor. “Hoje o produtor está amargando prejuízos dentro desse sistema. As empresas não vão operar sem saber como vai ser esse frete na prática. No livre mercado existem as altas e as baixas, e quando se paga muito em um determinado momento, no outro você consegue compensar, mas se ele for taxado, automaticamente será onerado”.
Como consequência, o agricultor está buscando alternativas para não ficar refém do tabelamento do frete. “Vários produtores já me falaram que estão adquirindo caminhões por necessidade interna da fazenda. Claro que todos os setores são importantes, principalmente para o nosso sistema rodoviário, o caminhoneiro é fundamental. Agora o caminhão pode estar na mão da transportadora, pode estar na mão do autônomo ou pode estar na mão de quem está produzindo o frete, a indústria tá aí para vender”