Mercado e Cia

A tendência para o milho agora é de baixa? Analista responde

Paulo Molinari destaca que a perspectiva de área plantada maior nos EUA pressiona Chicago, mas a segunda safra brasileira segue sob risco

O relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgado na primeira quinzena deste mês impôs um viés baixista na Bolsa de Chicago. A avaliação é do consultor Paulo Molinari, da Safras & Mercado. Segundo ele, acredita-se que a projeção de área plantada com milho no país deve ficar acima do esperado até então.

O número será divulgado em 30 de junho e, até lá, o mercado deve trabalhar com essa perspectiva, o que mantém os contratos futuros pressionados. Outro fator que pesa sobre as cotações, de acordo com Molinari, é a decisão da China de coibir movimentos especulativos nas commodities – inclusive, até o minério de ferro apresenta desvalorização.

Os chineses pretendem controlar o preço em seu mercado interno e acreditam que posso acabar se refletindo no mercado internacional, já que a gigante asiática é a principal compradora mundial de milho.

Segundo o consultor, agências internacionais espalharam um boato de que a China iria cancelar contratos com os Estados Unidos. Porém, não há registro no USDA de cancelamentos. Ele acredita que, no máximo, os chineses podem retardar algumas entregas. “Eles acabaram de comprar 10 milhões de toneladas em 10 dias. Não é usual que cancelem assim”, diz.

Isso vai derrubar os preços no Brasil?

A pressão em Chicago fez com que os preços caíssem no Brasil. Na última terça-feira, a saca de 60 quilos fechou abaixo de R$ 100 pela primeira vez desde o início de maio.

Apesar de fatores externos resvalarem no mercado brasileiro, daqui até a colheita da segunda safra, as cotações devem manter um piso elevado, por conta da provável redução na safra. Molinari diz que esta pode ser a pior quebra de safra da história brasileira.

Outro ponto de atenção é a diferença para os valores praticados no porto. Enquanto a exportação paga entre R$ 83 e R$ 85 por saca, no interior do país ela vale R$ 95. “Então podemos ter um ajuste natural até a entrada da safrinha”.

Milho dos EUA e do Brasil em risco?

De acordo com o consultor, o problema climático no Brasil está restrito ao norte e oeste do país, que vem sofrendo com a seca desde o inverno. Ele não descarta altas por causa do mau tempo, pois a safra norte-americana só se definirá em agosto. “Há um longo caminho para que ela se confirme”.

Já no Brasil, mesmo com as chuvas neste fim de semana ajudando lavouras em enchimento de grãos, a perspectiva não é de grandes recuperações. “O milho não ressuscita”, diz Molinari, lembrando que, para piorar, ainda há risco de geada em algumas áreas produtoras nos próximos dias.

Exportações

O Brasil deve colher entre 55 e 60 milhões de toneladas na segunda safra, diz Molinari. Logo, as exportações nos próximos meses terão que diminuir ou o país passará por desabastecimento no começo de 2022.

Nas últimas semanas, o preço no Brasil se acomodou após tradings redirecionarem para o mercado interno 1 milhão de toneladas que seriam exportadas. “Se continuarem fazendo isso a partir de julho, vai abastecer o mercado e diminuir as exportações no segundo semestre, mas isso precisa acontecer”, pontua.