Mercado e Cia

Assocon: 'Boi gordo no patamar atual não dá lucro para o invernista'

Presidente de associação de confinadores afirma que os custos de produção subiram muito mais do que a arroba

A arroba do boi gordo passou de R$ 300 em São Paulo nesta semana. Porém, de acordo com o presidente da Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon), Maurício Veloso, o patamar atual não se reflete em lucro para o invernista. Ele afirma que os custos subiram quase o dobro do valor oferecido pelo animal terminado. “O boi deveria estar valendo ao redor de R$ 340 para fazer frente aos gastos”, diz.

Veloso diz que a pecuária brasileira precisa encontrar um equilíbrio, porque o poder aquisitivo do mercado interno, principal consumidor da carne bovina brasileira, não consegue absorver patamares muito mais altos do que os atuais. “E se atendemos o consumidor com preços mais baixos, não conseguimos atender a reposição. O boi vendido não compra um bezerro”, afirma.

Taxa de câmbio encarece os insumos

O dólar mais alto, que favorece as exportações brasileiras ao dar competitividade no mercado internacional, também eleva os preços de insumos usados na pecuária. Além disso, com a irregularidade das chuvas no Centro-Oeste e a baixa disponibilidade de bezerros nos últimos anos, a oferta de animais de pasto está menor.

“O que temos são animais muito jovens requerendo milho, farelo de soja, resíduos de algodão, pasto adubado e manejo diferenciado. Os custos de produção estão dificultando a adoção de todo esse pacote tecnológico”, afirma Veloso, reforçando que a pecuária moderna não pode abrir mão desses insumos. “Essa elevação é inevitável, e está muito difícil de encontrar esse equilíbrio”.

Situação da pecuária brasileira e tendência para o boi gordo

Para a Assocon, o tamanho real do rebanho bovino do Brasil não corresponde às projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

“Essa diminuição do rebanho, notadamente a partir de 2020, 2012 para cá, mostra o empobrecimento do pecuarista. Muitos foram saindo do negócio, da cria, abatendo muitas fêmeas, o que resultou na baixa oferta da reposição e obviamente uma restrição de boi gordo”, relata.

Quanto ao futuro, Veloso acredita que a tendência para os grãos é de preços ainda mais altos, por isso ele recomenda que o pecuarista adquira os insumos necessários para o ciclo. “Isso não vai continuar nos patamares atuais. Acredito em uma majoração para milho e soja, em decorrência de todos os outros insumos”, diz.

Do ponto de vista do consumo de carne bovina, o presidente da Assocon está otimista. Ele vê sinais de que a economia brasileira está em recuperação, o que deve estimular o consumo da proteína.