A Administração Geral de Alfândegas da China (GACC) suspendeu temporariamente mais dois frigoríficos brasileiros da lista de estabelecimentos habilitados a exportar para o país. A medida atingiu uma planta da BRF em Lajeado (RS) e outra da JBS em Três Passos (RS), ambas dedicadas ao abate de suínos.
Atualmente, o Brasil possui mais de 100 plantas habilitadas a exportar para a China. Com essas novas suspensões, o número de estabelecimentos impedidos chegou a seis, o que ainda representa uma parcela pequena do total.
Principal destino das proteínas brasileiras
A China é a maior compradora de carne bovina, de suínos e de aves do Brasil. De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), no primeiro semestre, o país asiático, considerando também Hong Kong, respondeu por 68,8% da carne suína brasileira fresca, refrigerada ou congelada embarcada. Sendo que o segundo colocado, Cingapura, teve apenas 6,6% de participação. Em relação à carne bovina (in natura e processada), a participação chinesa foi de 57,1% do total, enquanto que para carnes de aves frescas, refrigeradas ou congeladas foi de 21,5%.
Impacto no mercado
As cotações de carnes bovina e de aves, tanto nas principais praças do Brasil como no mercado futuro, não registraram pressões baixistas após as primeiras suspensões e se mantiveram firmes na semana passada, inclusive com viés de alta.
O analista da Cogo – Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo, avalia que o impacto, no momento, é limitado, pois o Brasil tem muitas plantas habilitadas, além de oferta suficiente para manter o ritmo de embarques acelerado e o mercado interno abastecido.
O analista de mercado Osler Desouzart destaca que a China está suspendendo plantas de outros países também. Segundo ele, frigoríficos que registram casos de Covid-19 no seu quadro funcional são os principais alvos dessas medidas.
Desouzart diz que no Brasil o assunto é mais sensível apenas pelo fato de que a China é o grande comprador de carnes brasileiras, ou seja, enquanto esse cenário se mantiver, teremos alguma volatilidade de curto prazo associada a decisões chinesas nesses mercados.
ABPA não vê impacto nos preços
O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, não vê impactos significativos nos preços pagos aos produtores, pois a produção está contida devido a medidas restritivas adotadas nos frigoríficos para diminuir o contágio de Covid-19. Além disso, temos exportado em um ritmo forte e acima de 2019, considerando os valores acumulados no primeiro semestre.
Turra avalia que as medidas chinesas não têm fundamento científico, mas que também não se tratam de retaliação comercial. Ele acredita que alguns importadores estão tentando mostrar rigor no combate ao novo coronavírus em meio a temores quanto a uma segunda onda da doença.
Por fim, a ABPA se ofereceu para realizar todos os testes laboratoriais necessários para garantir que as produções embarcadas são livres de contágio.
Posição da indústria
Em nota, a JBS diz que não comentará a decisão e reitera que não tem medido esforços para garantir o abastecimento e a produção de alimentos dentro dos mais elevados padrões de qualidade e segurança, além da máxima proteção dos seus colaboradores.
“A empresa implementou uma série de medidas de controle, prevenção e segurança em todas as suas unidades e que estão em conformidade com a Portaria interministerial nr. 19, de 18 de junho de 2020 (Ministérios da Saúde, Agricultura e Economia). As medidas também seguem as orientações dos governos estaduais e municipais, além de contar com a consultoria e recomendação de médicos infectologistas especializados, como dr. Adauto Castelo Filho, e instituições de referência, como o Hospital Albert Einstein”, informa.
A BRF não se manifestou até a publicação desta matéria.