Mercado e Cia

No Dia Mundial do Leite, produtor tem mais medo do que motivos para comemorar

Custo alto, redução na tarifa do Mercosul e falta de apoio do Ministério da Economia pesam sobre os ombros deste importante setor da agropecuária

O leite é um dos produtos mais importantes da agropecuária brasileira. Além de ser essencial para produção de alimentos, também gera emprego e renda no país. De acordo com o último censo realizado pelo IBGE, em 2017, existem cerca de 1,17 milhão de propriedades rurais que produzem leite no Brasil.

Com tudo isso, o Dia Mundial do Leite, comemorado em 1º de junho, tinha tudo para ser uma data feliz. Porém, no Brasil, o produtor vive um cenário muito complicado. O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Geraldo Borges, afirma que os custos de produção estão inviabilizando a permanência de pequenos e médios pecuaristas.

Como o valor pago ao produtor pelo leite mal cobre os custos com insumos, muitos têm vendido seus animais para produção de carne, aproveitando a valorização da arroba. Isso é muito ruim para o rebanho brasileiro, que figura entre os três maiores do mundo.

Borges afirma que a Abraleite, desde sua fundação em 2017, trabalha junto ao governo em busca de soluções para a cadeia produtiva. Ele diz que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, é muito aberta ao diálogo. Porém, algumas decisões não dependem só dela. O ministro da Economia, Paulo Guedes, também precisa cooperar.

Insumos mais caros prejudicam produtor de leite

Entre as críticas do presidente da associação está o fato de o Ministério da Agricultura e a Conab estarem falhando na garantia de abastecimento no país. Segundo ele, as exportações nos níveis atuais são ótimas para os produtores de grãos, mas péssimas para a pecuária. “O leite, que não tem a válvula de escape que são as exportações, sofre mais”.

 

O produtor José Carlos Araújo, de Chapecó (SC), é um dos milhares que sofrem com os custos elevados. A estiagem e a cigarrinha provocaram perdas significativas na safra de milho e os preços do cereal estão dificultando bastante a continuidade do trabalho.

Para o comentarista Benedito Rosa, que é ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e produtor de leite, o setor precisa de intervenção do estado, aos moldes do que é feito em outros países.

Benedito Rosa destaca que o Plano Safra não tem recursos específicos para o produtor de leite. O seguro rural, que tem condições específicas para quem cultiva frutas e hortaliças, também não trabalha nada especial para o setor de leite.

E as coisas podem piorar, segundo o comentarista. A ideia defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de reduzir a Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul em 20% pode acabar com o resto de competitividade que o leite brasileiro tem. “Significa mais facilidade para trazer lácteos de outros países”.