O dólar comercial tem alta firme frente ao real, renovando máximas a R$ 5,80 nesta segunda-feira, 29, refletindo o temor local em torno do cenário fiscal do país, em meio aos desdobramentos em relação ao Orçamento para 2021 votado na semana passada, além dos receios com a política local e o avanço da pandemia de covid-19 no país e o ritmo lento de vacinação em massa.
Ao operar nas máximas desde o início do mês, acima de R$ 5,80, o economista-chefe da Necton Corretora, André Perfeito, reforça que parte deste movimento pode ser creditado a uma maior aversão ao risco no exterior, uma vez que maioria das moedas emergentes perde contra a divisa norte-americana.
“Pode conspirar para este fato o preço do petróleo em queda hoje, possivelmente por conta do fim da crise no canal de Suez, o que faria diminuir os custos de transporte e, logo, no preço final das mercadorias. Mas não apenas isso”, comenta.
Ele avalia que uma declaração recente do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, em uma entrevista ao “Financial Times” chama a atenção ao alertar para o fato que as dívidas de países em desenvolvimento podem sair de controle após os esforços de combate à pandemia, já que seis países “deram calotes” nas dívidas externas, entre eles, a Argentina, que na semana passada declarou não ter dinheiro para pagar a dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
“O risco na mesa é que países que não têm dívida relevante em dólar, como o Brasil e a África do Sul, estão se financiando internamente com taxas muito mais altas do que as praticadas nos países centrais. O secretário-geral da ONU cita especificamente o Brasil numa questão que estamos alertando há tempo: o prazo médio da dívida vem caindo, e isso pode se tornar um problema em potencial”, destaca.
Perfeito acrescenta que há um “risco real” do Brasil perder o controle da dinâmica da dívida caso não se estabilize mais rapidamente as impressões sobre o governo federal, que “tem sofrido crises reiteradas”, em meio ao cenário de inflação que se mostra cada vez mais “selvagem”.
Além do exterior, onde a divisa estrangeira se fortalece ante as de países emergentes diante a expectativa de recuperação econômica mais rápida do que a esperada nos Estados Unidos, que tem avançado com a vacinação em massa, a pandemia segue preocupando investidores.