O aumento de casos de enfezamento nas lavouras de milho acende um sinal de alerta no campo. A doença pode causar perdas de produtividade superiores a 90%, principalmente quando não são usadas cultivares resistentes. Diante disso, agricultores, pesquisadores e entidades de Mato Grosso estudam medidas para conter a presença da praga responsável pela doença nas plantações, a cigarrinha.
Atualmente, a cigarrinha é considerada um dos insetos mais nocivos para a agricultura na América Latina. O inseto de cor branco-palha tem apenas meio centímetro de comprimento, alimenta-se exclusivamente de milho e coloca ovos na epiderme, preferencialmente na nervura central de folhas do cartucho da planta. O ciclo da espécie está completo em 27 dias, mas a longevidade média chega a 45 dias.
Por apresentar o hábito sugador, além de causar danos, pode transmitir patógenos para a planta. “São doenças sistêmicas que reduzem a quantidade de nutrientes absorvidos pelas plantas, e isso pode causar uma redução de produtividade”, explica a entomologista da Fundação MT, Lucia Vivan.
De acordo com a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), a praga está presente nas lavouras do estado há aproximadamente três safras. “Porém, ela ainda não estava transmitindo o enfezamento, que é a doença que preocupa. Este ano, já vimos áreas contaminadas. O problema maior é que ela é uma doença silenciosa, o produtor só vai perceber quando já for tarde”, diz Lucer Beber, vice-presidente da entidade.
Cientes que depois de instalada, a cigarrinha é difícil de ser controlada, o presidente da Aprosoja-MT, Fernando Cadore, pede cautela por parte dos produtores e empresas. “Faça suas pulverizações e faça o monitoramento. Obviamente, medidas têm que ser muito bem pensadas, e o momento agora é de estudo da praga e de planejamento para se saber de que maneira atuar com relação a essa praga”, defende.
A entomologista Lucia Vivan faz algumas recomendações que podem ajudar a reduzir a população da cigarrinha nas lavouras: verificar as áreas de milho verão para saber se há presença da praga. Caso haja, o produtor precisa realizar o controle para que o inseto não se desloque para as lavouras da segunda safra. Além disso, áreas de braquiária também merecer atenção redobrada, segundo a cientista, porque as cigarrinhas podem sobreviver nessas plantas e depois retornar ao milho.
A cigarrinha não está tirando o sono apenas do produtor de Mato Grosso
A presença da praga em lavouras da Bahia é mais antiga e mais grave, tanto que alguns produtores estão desistindo de plantar milho. É o caso do agricultor Celito Bredas. Esta é a primeira safra sem milho nas áreas de pivô da propriedade, que fica em Luís Eduardo Magalhães (BA). Segundo ele, o enfezamento inviabilizou o cultivo, que tinha potencial de mais de 200 sacas por hectare.
“Em 2016, começamos uma batalha contra a cigarrinha do milho, que é vetor dos enfezamentos e molicutes no milho. Parei de plantar devido a esse problema, porque é muito grave. Baixamos, em pouco tempo, de 180 para 100 sacas por hectare, e aí fica inviável. Em alguns pivôs com materiais tolerantes, conseguimos 140 sacas. Mesmo assim, a gente não se anima a plantar milho”, conta Celito.
Para os agricultores baianos, a solução para o problema seria a regulamentação nacional de um calendário de vazio sanitário para o milho. O pedido já foi encaminhado ao Ministério da Agricultura.
“É muito importante e fundamental para a nossa região. Nós temos que voltar a plantar milho. Eu diria até que o Brasil precisaria plantar mais milho do que soja daqui 5 ou 10 anos. É necessário para a sustentabilidade de toda a cadeia de alimentos do Brasil”, frisa Celito.
O pesquisador e fitopatologista Lucas Fantin, da Fundação Chapadão, em Mato Grosso do Sul, também apoia o vazio sanitário para o milho. “O manejo de enfezamentos está relacionado muito à ponte verde: uma área de milho verão, plantas tigueras e o milho safrinha promovem a perpetuação dos enfezamentos”, lembra.