Em 1946, a família Dijkstra, que vivia da pecuária leiteira no interior da Holanda, decidiu deixar para trás os horrores da Segunda Guerra Mundial e partir em busca de um novo horizonte. O destino escolhido foi o Brasil.
Mesmo tendo apenas seis anos de idade na época, Franke Dijkstra ainda se lembra da viagem de navio que durou quase um mês. A bordo estavam também 40 novilhas e um touro. O reprodutor acabou caindo no mar e quase ficou pelo caminho.
“O touro se animou bastante com a novilhada no navio, então ele foi dar uma volta , saiu do boxe dele e pulou. O meu pai fez o capitão voltar o navio, porque chegar aqui sem o touro puro dificultaria, não tinha inseminação. Então, isso aqui foi histórico”, conta Franke.
A família Dijkstra se instalou no interior do Paraná. Ao completar 12 anos, Franke perdeu o pai foi obrigado a assumir a propriedade junto dos irmãos. Eles decidiram apostaram na agricultura. Primeiro, no arroz, e depois no trigo, milho e soja. Naquela época, o tratamento do solo não era uma prioridade. “As pessoas falavam: ‘Depois de três anos de roça, tem que abandonar e deixar a capoeira voltar, porque após mais sete anos, dá para fazer mais duas roças’”, diz.
Com o tempo, foi preciso encontrar uma saída para evitar a degradação do solo causada pelas erosões e recuperar os nutrientes. No início da década de 1970, Franke Dijkstra começou a pesquisar e descobriu uma nova técnica utilizada nos Estados Unidos. Hoje, o plantio direto é considerado a maior revolução da agricultura brasileira e mundial, porém, 40 anos atrás, quando ele começou a plantar na palha, foi chamado de louco pelos vizinhos.
“É normal [a reação]! Era uma coisa totalmente diferente. Quando gerações fazem de uma forma e você, de repente, muda, você é louco. Mas tem que ter um pouco de louco, senão não vai a lugar nenhum”, defende o produtor.
Atualmente, a fazenda Frankanna é um exemplo de sucesso na produção integrada de lavoura-pecuária. O arado virou peça de museu e a história se transformou no livro “O Solo Ensinou”. Para Franke, continua ensinando. “O Brasil pode dobrar a produção tranquilamente sem ter que mexer na Amazônia, disso eu tenho certeza. Para isso, você tem que investir em tecnologia”, diz.
Franke segue um velho provérbio chinês: é preciso nadar contra a correnteza para encontrar a nascente. Se hoje o plantio direto é uma técnica consolidada no mundo inteiro, é preciso reconhecer a coragem de quem foi pioneiro.