A cotação do bezerro acumula alta superior a 57% em 2020, aponta o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Segundo o indicador, o animal estava cotado na quarta-feira, 23, a R$ 2.411,69. “É o preço mais alto da história, mesmo descontando a inflação”, afirma o analista de mercado Cesar de Castro, do Itaú BBA.
De acordo com o especialista, a valorização do bezerro é explicada pela relação entre oferta e demanda. Enquanto recriadores têm comprado bastante para repor o rebanho em meio às vendas aquecidas de carne bovina, a disponibilidade de animais segue reduzida, consequência de anos de abate de fêmeas. “Se matamos muitas vacas, em algum momento, a produção de cria reduz e o mercado reage”, pontua.
Cesar de Castro afirma que é um dos piores momentos da história para o recriador. Atualmente, é possível comprar cerca de 1,7 bezerro para cada boi gordo vendido. Além disso, para que esses animais se paguem, o pecuarista terá que ter bons preços no mercado boi gordo mais à frente. “É um momento bem perigoso para quem busca cria. Deixa pouco espaço caso o boi tenha algum problema”, diz.
Segundo o analista, o pecuarista tem que levar em consideração que a população brasileira perderá o auxílio emergencial em 2021 e que o rumo do dólar, que tem fortalecido as exportações de carne bovina, é incerto. “A atitude de dobrar de tamanho, de investir muito mais pesado, vai carregar um risco”, frisa.
Para o criador, a perspectiva é mais tranquila: apesar de a oferta de bezerro estar aumentando aos poucos, não deve ser suficiente para reduzir os preços no primeiro trimestre de 2021. “Estamos há um ano e meio com retenção de fêmeas mais notável, segundo dados do IBGE. Normalmente demora muito mais do que isso para o preço reagir negativamente”, afirma.
Porém, segundo o analista, é provável que as cotações do bezerro parem de subir no começo do próximo ano. “Não há espaço para grandes quedas, mas pode haver alguma acomodação”, diz.