A forte seca está afetando a produção agropecuária de Santa Catarina. A lavoura de milho do produtor Gildomar Graebin, em Cunha Porã, deve render apenas 20 sacas por hectares, 90% abaixo do que o previsto para esta safra — cerca de 200 sacas por hectare.
“Nem direito para a silagem do gado vai dar este ano. Para esse milho produzir precisaria entrar numa chuva muito grande de volume, e isso está difícil de acontecer”, diz.
O plantio começou no fim de agosto e, desde então, foram poucos milímetros de chuva. Se não fosse a estiagem nesse período, as espigas estariam cheias, mas não foi o que aconteceu.
“Estamos há 30 dias sem chuva e o período de formar as espigas já começou. A polinização não está conseguindo fazer, muito menos crescer as espigas do milho. O negócio aqui não está fácil”, diz.
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Em Seara, no oeste catarinense, o produtor Marcos Vinícius de Oliveira cultiva 12 hectares com milho para silagem. Por conta da estiagem, ele espera queda de 80% na produtividade. “Vai ser um milho de baixo rendimento, porque a altura dele está muito baixa para silagem e vai ser um alimento de péssima qualidade para os animais”, relata.
Efeito dominó
De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), serão necessárias sete milhões de toneladas de milho para abastecer Santa Catarina em 2021. A estimativa inicial de colheita era de 2,7 milhões de toneladas. Agora, com a estiagem, não deve passar de 2 milhões de toneladas.
O estado já é o maior importador do grão, mas com esse cenário, será preciso trazer um volume maior do que nos anos anteriores, o que vai afetar os custos de produção das indústrias locais.
“Isso impacta diretamente no custo de produção de frangos, suínos e leite, através das rações, porque esse milho para chegar em Santa Catarina tem um acréscimo do frete, depende de onde que ele vem, se internacional ou nacional, mas esse frete é computado como custo em cima desse produto”, diz Enori Barbieri, diretor do conselho fiscal da Abramilho.
A preocupação é que, mesmo importando, falte milho para atender a demanda catarinense, de acordo com o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias de Santa Catarina (Fecoagro-SC), Cláudio Post.
“Estamos muito preocupados com o abastecimento desse insumo para as nossas fábricas de rações, para manter os nossos rebanhos produtivos. Soubemos que o clima tem prejudicado não só o oeste de Santa Catarina, como também o Rio Grande do Sul e oeste do Paraná, que poderiam suprir a nossa demanda. Também soubemos que no Paraguai, que é um outro fornecedor de milho, também está com problemas climáticos. Então, a situação é realmente preocupante e deveremos montar estratégias para o abastecimento de outras regiões ou até importar milho de outros países”, frisa Post.
“Em 2021, vai continuar com forte demanda em função do setor do frango, do suíno e também da exportação, que vai continuar com o pé no acelerador, e da demanda interna. Com isso, vai precisar muito de milho”, ressalta o analista de mercado Vlamir Brandalizze.