No início da noite desta terça-feira, 1º, durante reunião com membros do governo, os presidentes de entidades de etanol do país rejeitaram a proposta de criação de uma nova cota de importação do biocombustível, vindo de países de fora do Mercosul, com isenção de tarifa e duração de 30 dias. Na segunda, 31, a taxa de 20% voltou a ser aplicada em compras de etanol.
O plano foi apresentado pelo ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Pressionado pelos Estados Unidos, o chanceler argumentou que haveria disponibilidade de negociação sobre a tarifa aplicada ao açúcar brasileiro, caso a nova cota seja aceita. Para as entidades, não há garantias sólidas de acordo.
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Em 2019, a cota de compra de etanol com tarifa zero foi aumentada de 600 milhões de litros de combustível para 750 milhões de litros. O acréscimo foi concedido como um ato de boa fé para que os Estados Unidos se dispusesse a negociar a ampliação da cota de compra do açúcar brasileiro ou a redução da tarifa da commodity, que hoje está fixada em 140%.
“Todos nós entendemos que os Estados Unidos são um parceiro central para o Brasil, mas não poderíamos aceitar a proposta de mais prorrogação da isenção depois de 12 meses concedido para que eles pudessem resolver a questão sobre a entrada do açúcar brasileiro. Logo, de forma unânime, a decisão de todos do setor é que o governo Bolsonaro mantenha a negociação a esse respeito, mas agora sem a prorrogação”, ponderou o presidente da Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana), Alexandre Lima.
Mesmo de férias, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, foi quem coordenou a reunião. Participaram também do encontro o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, o secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Roberto Frendt, e o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS). Tereza Cristina e Albuquerque também não são favoráveis à criação de uma nova cota sem contrapartida do governo norte americano.
Apesar da posição contrária do setor e de parte do governo, o assunto continua em articulação no Executivo. Na manhã desta quarta, 2, o ministro Ernesto Araújo se encontrou com o presidente Jair Bolsonaro para tratar do tema. Também durante a manhã, o ministro interino da Agricultura, Marcos Montes, discutiu a tarifa com o secretário de Comércio e Relações Internacionais da pasta, Orlando Ribeiro.
A expectativa é de que os ministérios apresentem uma nota sobre a discussão em andamento. Entidades do setor acompanham a pauta com preocupação. Apesar da próxima reunião do Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex) estar agendada apenas para o dia 11, há a possibilidade de que uma reunião extraordinária seja convocada e os membros do grupo emitam a decisão final sobre a solicitação.