Nem a estiagem e nem a geada tardia registradas na última safra vão atrapalhar os planos dos produtores de trigo do Rio Grande do Sul. A movimentação já começou em busca das sementes adaptadas às regiões e, segundo a Associação dos Produtores e Comerciantes de Sementes e Mudas do estado (Apassul), o cereal é uma opção rentável para o inverno, além de apresentar vantagens ao sistema de produção.
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Juliano Manfroi, que é produtor em Passo Fundo, no planalto médio do Rio Grande do Sul, já foi às compras e garantiu os insumos para o plantio da próxima safra.
“Nosso plantio é para o dia 10 de junho e já adquirimos os insumos. Eu acredito que muitos produtores da região também já fizeram isso para garantir o custo, pois os insumos subiram muito. Este ano, nós vamos apostar de novo na cultura do trigo. Muitos agricultores aqui da região vão aumentar a área de 15% a 20%, em vista do preço bom. Torcemos para que o clima nos ajude a conseguir fazer uma boa safra”, disse.
O Rio Grande do Sul é responsável por 40% da produção nacional de trigo. Segundo a Apassul, o mercado está aquecido e existe uma expectativa grande para o aumento da área plantada nesta safra.
“Nós tivemos o aumento ao redor de 20% na área destinada à produção de sementes e também uma excepcional safra. Então, a gente pode afirmar que, sim, nós teremos volume de sementes para atender ao mercado, mesmo com esse grande apetite de incremento. E o que é mais importante, atender esse mercado com qualidade. Acredita-se que ao redor de 50% das negociações de sementes de trigo já ocorreram. Desse volume, de 30% a 50% já foram repassadas aos agricultores”, afirmou o diretor-administrativo da associação, Jean Carlos Cirino.
A Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro) calcula que plantar trigo neste ano vai ficar cerca de 22% mais caro. Na opinião da Federação da Agricultura do estado (Farsul), os produtores gaúchos devem aumentar a área de plantio, visando altas produtividades e melhor renda.
“A Farsul vê com bastante otimismo o crescimento da próxima área de inverno. No ano passado, produzimos, aproximadamente, 950 mil hectares de trigo. Eu acredito que, neste ano, se não houver problemas de sementes, nós possamos chegar a 1,2 milhão de hectares, o que só tínhamos conseguido alcançar em termos de área após a excelente safra de 2013, ou seja, em 2014”, contou o coordenador da Comissão de Trigo da entidade, Hamilton Jardim.
Paraná
No Paraná, maior estado produtor de trigo nas últimas safras, os agricultores aguardam a colheita da soja para decidir se investem no trigo ou no milho safrinha. Segundo Carlos Hugo Godinho, do Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Deral), a rentabilidade do trigo neste ano será diferenciada.
“Desde 2013, a gente não via uma rentabilidade tão boa da cultura quanto neste ano. Apesar de ser um período de entressafra, que pode ter preços relativamente enganadores, ainda temos a expectativa de que isso incentive o produtor a buscar uma safra um pouco maior do que a do ano passado. Por outro lado, a gente tem os preços do milho também em um patamar muito bom. Em algumas regiões do estado, isso pode limitar o avanço do trigo”, disse Godinho.
Sistema de produção
Para os pesquisadores da Embrapa, o investimento no trigo não deve ser planejado no inverno de forma isolada. A cultura é uma excelente opção para compor sistemas de produção diversificados, envolvendo a soja no verão.
“Em recente trabalho publicado pela equipe de manejo do solo da cultura da Embrapa Soja, nós detectamos que o cultivo do trigo, antecedendo a soja, proporcionou um aumento de mais de 50% na produtividade da oleaginosa, comparado a uma área em pousio. Esse aumento de produtividade da soja, após o trigo, é atribuído principalmente à cobertura do solo proporcionada pelo cereal. O trigo tem uma grande capacidade de cobrir o solo e a palha que produz é persistente. Então, essa cobertura permanece praticamente durante todo o ciclo da soja”, afirmou o pesquisador Henrique Debiasi.