Muitas pessoas estão associando os verões mais secos e quentes às mudanças climáticas, mas há ciclos da Terra que também explicam a diminuição de chuvas em grande parte do planeta — inclusive no Rio Grande do Sul, onde 28 cidades já decretaram situação de emergência por conta da estiagem.
“A oscilação Interdecadal do Pacífico é um período que dura cerca de 30 anos. Na fase fria, tende a diminuir a chuva em diversas partes do planeta, além de aumentar a incidência de eventos climáticos extremos”, conta o meteorologista Paulo Etchichury, da Somar. De acordo com o especialista, a fase fria começou por volta de 2005 e também tem responsabilidade no aumento das queimadas no mundo.
A Austrália viveu, em 2019, o ano mais quente de sua história. Nas últimas semanas, o número de queimadas aumentou. O jornalista Ivan Walker, de Sidney, capital australiana, conta que os focos são registrados, principalmente, em áreas rurais. “Não foi o pior ano em relação a mortos, mas em extensão de áreas, o que significa que mais animais estão morrendo”, diz.
Segundo Walker, as medidas de evacuação das pessoas nas últimas semana têm sido mais eficazes do que em anos anteriores, mas alguns animais, por conta da dificuldade de locomoção, não conseguem escapar. “Como vocês do Brasil estão bem familiarizados, nossos famosos coalas são animais bem fofos, mas se movem bem devagar e, infelizmente, significa que milhares deles foram mortos. Os cangurus conseguem escapar melhor”, afirma.
Precaução não bastou contra queimadas
Autoridades australianas adotaram queimadas de redução de risco nos últimos anos. Nos meses mais frios, bombeiros queimam — de forma proposital e controlada — algumas áreas para impedir o avanço das chamas em casos de incêndio. Porém, isso não foi suficiente, porque as propagação é favorecida pelo tempo seco, temperaturas altas e ventos. O solo seco também é um combustível.
“Tem centelhas e brasa voando a centenas de metros, senão quilômetros, de distância; ateando fogo a casas e matas. A velocidade de dispersão dessas queimadas é impressionante”, diz Walker.
No momento, depois de ter registrado máximas recordes por vários meses, a Austrália está passando por dias com temperaturas não tão elevadas. Isso ajuda muito os bombeiros a manterem essas queimadas sob controle. No entanto, ainda faltam dois meses de verão e a situação pode piorar.
“Será um jogo de espera nas próximas décadas, para ver se as coisas melhoram ou pioram. Se as temperaturas ficarem cada vez mais altas e o solo cada vez mais seco, será bem catastrófico”, afirma Walker.