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Pecuaristas devem se preocupar com efeitos do coronavírus no mercado?

Especialistas falam como o anúncio de férias coletivas em frigorífico e o cancelamento de compras da Europa afetam o setor

Frigoríficos brasileiros estão em estado de alerta com a pandemia do novo coronavírus que, além de afetar o nosso país, reduziu drasticamente as exportações de produtos para grandes clientes, como a China.

Nesta terça-feira, 17, a Minerva Foods, uma das líderes na América do Sul na produção e comercialização de carne in natura anunciou férias coletivas em meio aos efeitos do coronavírus. A empresa informou que, a partir do dia 23 de março, as férias começam para fornecedores das unidades de Janaúba (MG), José Bonifácio (SP), Mirassol d’Oeste (MT) e Paranatinga (MT).

A JBS informou que está monitorando os reflexos do mercado em relação ao Covid-19 e que estuda a implantação de férias coletivas em algumas unidades de processamento de bovinos do Brasil.

A Marfrig comunicou que não tem posicionamento oficial e que as operações seguem normalmente. A Frigol também não se manifestou sobre paralisações e disse que as operações seguem normalmente.

Cancelamentos

A Europa está cancelando pedidos de compra de carne brasileira por conta da expansão do coronavírus. De acordo com o analista da consultoria Safras & Mercado, Fernando Iglesias, o receio dos frigoríficos está no desaquecimento da demanda interna e externa. Com isso, eles adotam medidas para reduzir ofertas e manter o preços.

“Como esperado, o mercado financeiro mundial em pânico acabou influenciando o mercado agropecuário. A Europa está fechada, há um estrangulamento logístico na Europa e na China, e o mercado tem precificado essa situação”, disse.

Para o analista, o anúncio de férias coletivas é reação “de um mercado extremamente desnorteado” e a tendência é de que os frigoríficos sigam exercendo pressão, ao menos em curto prazo.

Impactos

Sobre os impactos, Fernando Iglesias diz que ainda é cedo para avaliar. “Mas, se pararmos para pensar no que os frigoríficos já perderam em valor de mercado, com a queda das bolsas, já é algo substancial. Em relação às exportações, os números do primeiro bimestre é satisfatório, mas já se percebe uma desaceleração”, disse.

Para ele, o mercado trabalha para se proteger de uma queda no volume de embarque e até na restrição de uma demanda doméstica, caso ocorra algum bloqueio no Brasil.

Novos cancelamentos?

A expectativa agora é da reação de outros mercados, que poderiam seguir a Europa e cancelar compras do Brasil. Para o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Antônio Camardelli, no entanto, a preocupação ainda é com os europeus.

“Países com potencial de turismo tiveram a proibição de circulação, como Itália e França, o que praticamente inviabiliza esse consumo. Lembrando que a Europa é o principal destino de cortes mais nobres. Paralelo a isso temos, temos uma retomada em relação à China, mas ao mesmo tempo, nos deparamos com problemas naturais de congestionamento, como falta de contêineres”, avaliou.

Números favoráveis até agora

O Canal Rural também conversou com o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, que avaliou os números do Brasil no primeiro bimestre e nos dez primeiros dias de março.

 

“As exportações nos 10 primeiros dias úteis do mês acenam para uma exportação de suínos maior do que 65 mil toneladas para o mês de março, uma média de 3 mil toneladas exportadas diariamente. No caso das exportações de aves, temos uma média superior a 15 mil toneladas nos 10 primeiros dias úteis de março, o que acena para quase 350 mil toneladas no mês, o que é muito positivo”, contou.

Segundo ele, permanecendo constante e mantida as condições atuais com as exportações chegando aos portos, o mês fechará positivo.