O agrometeorologista José Ricardo Pezzopane e o pesquisador Júlio Palhares, ambos da Embrapa, comentam os impactos do déficit hídrico na qualidade e quantidade da pastagem disponível no Sudeste e Centro-Oeste. Os especialistas observam que as geadas, em período de seca, reduzem as condições de bem-estar dos animais e dificultam a manutenção das condições sanitárias de manejo, entre outras questões.
José Ricardo Pezzopane
A gente sabe que teve um efeito, a ocorrência de geada sobre as pastagens. O que acontece é que, nessa época do ano, as pastagens já estão num período seco, então elas já estão com uma qualidade diminuída. Mas alguns produtores adotam estratégias para manter esse pasto um pouco mais verde. Por exemplo, a vedação de pastos, ou mesmo pastagens novas, recém-formadas. Essas pastagens ficam com algum rigor, um pouco melhores. E a geada de fato afetou essas pastagens no estado de São Paulo, sul de Minas, Mato Grosso, Paraná. É lógico que esse efeito vai seguir nos próximos dias, com essa questão de oferta de animais, então vamos ter um reflexo maior dessa geada na pecuária como um todo, na região sudeste do país.
Júlio Palhares
A situação em algumas regiões das quais temos relatos é de total desespero, pois não existe água para os animais ou pra qualquer prática pecuária. Os estudos indicam que as mudanças climáticas devem tornar esses eventos mais frequentes e intensos, então nós temos que ser muito preventivos e se preparar para esses eventos. Isso envolve desde práticas conservacionistas na questão de solo, o menor uso de água na sala de ordenha, uma irrigação eficiente, com preceitos técnicos, e a própria nutrição do animal tem uma influência direta no consumo de água do animal. Uma nutrição bem feita reverte-se no consumo adequado de água e, logo, uma maior preservação do sistema de produção.
José Ricardo Pezzopane
As previsões para o próximo trimestre (agosto, setembro e outubro) mostra uma chuva dentro da normalidade. Em algumas faixas do Estado de São Paulo, Triângulo Mineiro e parte do estado de Goiás, uma chuva abaixo da média. Acontece que nós estamos num período seco. Mesmo que a chuva se mantenha na média, é pouca chuva. Acredito que a situação não deve se alterar até setembro, na maior parte do País, principalmente nas regiões sudeste e centro-oeste.
Júlio Palhares
A gente tem uma cultura no Brasil com água abundante e barata, por isso que não se dá valor, exceto em momentos assim, de crise hídrica, em que falta o recurso. A nossa memória é curta. Quando acaba a crise hídrica — essa não é a primeira e nem será a última. E ainda o conhecimento do uso de água no sistema de produção é muito baixo no Brasil, então nós temos que mensurar isso para ver se estamos sendo ineficientes e propor práticas para termos maior eficiência hídrica.