Três a cada quatro produtores de arroz estão com contas atrasadas há mais de um ano ou renegociaram a dívida, aponta a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz). Segundo o presidente da entidade, Henrique Dornelles, o endividamento do setor é complexo.
“Não vem só dos altos custos de produção. Ele vem da insegurança de preço, dos problemas climáticos que infelizmente o seguro agrícola não cobre. Isso tudo junto criou algo bastante considerável”, explica Dornelles.
Empolgado com o preço do cereal em 2014, o produtor Fábio Peres, de Camaquã (RS), resolveu expandir a área plantada de 500 hectares para 850 hectares. Mas, após três safras com as cotações em queda, faltou dinheiro para cobrir os investimentos que a plantação maior exigia. “Se aumenta a área, você é obrigado a comprar maquinário e aumentar o número de funcionários”, diz. Não teve jeito. Peres acabou endividado junto ao banco e, atualmente, mais da metade do plantio passou a ser financiado por fornecedores de insumos.
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Altas no preço do arroz poderiam amenizar a dificuldade enfrentada pelos orizicultores, mas tem acontecido exatamente o contrário. De acordo com o economista da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, o produtor está vendendo a saca abaixo do custo de produção.
O especialista elenca os desafios: “Precisamos baixar nosso custo de R$ 8,5 mil para R$ 5 mil. Só que isso não pode ser feito sem ter liberdade para comprar insumos onde quisermos, sem fazer investimentos pesados na geração de energia elétrica no Brasil e com a tributação imensa que a gente tem no óleo diesel”.
Para a Federarroz, o custo alto tira competitividade em relação a países que não gastam tanto para ofertar arroz ao mercado. “Eu tenho que cumprir com todas as minhas obrigações sociais, ambientais e tributárias para manter a máquina do governo em dia. Tudo isso torna a minha saca muito mais cara do que a dos outros países”, afirma Dornelles.
Sem alternativa, os produtores estão reduzindo a área plantada. Antônio da Luz chama atenção para o fato de que isso pode causar problemas de abastecimento no futuro.
Beco sem saída
A cada safra, o custo de Peres fica maior mesmo sem novos investimentos. Na conta, entram os ajustes no óleo diesel e nos fertilizantes, além da terra arrendada. “Na minha lavoura mesmo tem três mãos de ureia. Sou obrigado a colocar. Se não fizer isso, não vou produzir. Não tem como dizer que eu vou produzir bastante tendo custo pequeno. Não dá, eu não consigo”, lamenta.