O abate de matrizes leiteiras em todas as regiões do Brasil mantém o preço do litro do leite nos patamares mais altos dos últimos seis anos. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a valorização acumulada do primeiro semestre deste ano chega a quase 60%.
O rebanho leiteiro do produtor José Renato Bicudo encolheu desde 2015. Com 30 animais a menos, a produtividade também caiu. Pelo menos 300 litros a menos por dia, na comparação com julho de 2015. Ele reclama do aumento do preço dos produtos que compõem a ração e justifica a opção pelo abate. “O preço da arroba subiu e ficou interessante, principalmente para resolver o problema de caixa. Temos que garantir o final do ano e é por isso que descartamos para poder remunerar”, disse.
Uma cooperativa que reúne mais de 500 produtores no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, registrou uma queda de 30% na ordenha feita nas propriedades. O cenário não é exclusivo da região e atinge quase todas as bacias leiteiras do Brasil. De acordo com o Cepea, dos sete estados analisados, seis apresentaram queda de captação em maio deste ano : Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo. A exceção ficou para o Rio Grande do Sul.
Segundo Expedito Ibraim Viterbo, diretor de produção da Comevap, a oferta começou a diminuir em fevereiro. “Pelo que a gente tem apurado com outras cooperativas, essa queda foi no Brasil inteiro. A reclamação pela falta de leite vem de todos os lados”, disse.
E esse desequilíbrio entre oferta e demanda mantém o preço do litro do leite nos patamares mais altos dos últimos seis anos. O acompanhamento mensal do Cepea mostra que, nos primeiros seis meses do ano, a valorização acumulada do leite já é de 58%. “Nesse mesmo período do ano passado, por exemplo, a cooperativa paulista comprava o litro dos cooperados a R$ 1,16 e hoje não paga menos de R$ 1,45. A gente repassa para o consumidor, mas não consegue repassar tudo, pois corremos risco de perder o mercado”, falou Viterbo.
E esse alto abatimento de matrizes leiteiras em todas as regiões do país tende a manter os preços altos pelo menos até setembro, quando a oferta de insumos para a atividade se elevam e automaticamente a produtividade é maior. Até lá, o preço pago ao produtor e repassado ao consumidor pode subir ainda mais. “Estabiliza porque vai entrar safra de concentrados, começa a entrar a polpa de laranja, que é a base maior do nosso rebanho, e a safrinha de milho. Então, se os insumos diminuírem, há uma tendência de aumentar o volume de leite e, consequentemente, vai ter uma estabilidade de preço e até uma diminuição”, completou Expedito.