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Cultivo de bagre é alternativa na crise hídrica em São Paulo

Por ser um peixe de respiração aérea, viveiros da espécie podem ser menores e, consequentemente, demandam menos volume de água

Fonte: Canal Rural

Os irmãos César e Daniel Polettini, de Mogi Mirim, estão investindo em uma espécie de peixe que ajuda a conter os efeitos negativos da crise hídrica em São Paulo: a Clarias gariepinus, ou popularmente, o peixe bagre. Por ser um peixe de respiração aérea, os viveiros podem ser menores, assim como a demanda por volume de água. A rentabilidade é grande: às vezes é possível conseguir três safras em apenas um ano.

– A gente está vivendo uma crise hídrica e o bagre respira fora d’água. Hoje, você põe um por metro quadrado em tanque escavado, ele vai demorar 12 meses para atingir um quilo. Aí, você despesca e sai geralmente, estourando, uma tonelada de peixe. Nessa mesma área que eu vou por o pacú, consigo tirar 22 toneladas de bagre em cem dias. Eu consigo fazer duas safras, quase três em um ano. E ele não precisa de muita água, só de renovação por causa da amônia – conta César Polettini.

O cultivo de peixes de água doce no Brasil virou referência na microrregião da Baixa Mogiana, no interior de São Paulo. Piscicultores de 11 municípios mantêm centenas de viveiros que produzem uma média de 2 milhões de toneladas de pescado ao ano

– É uma alternativa viável pra grande parte dos produtores. A maioria deles tem uma área viável de se construir um viveiro ou, às vezes, tem até um viveiro como bebedouro para gado, que dá simplesmente para adaptar à piscicultura. A atividade não concorre com as demais da área agrícola e isso ajuda a trazer uma nova renda para propriedade. Se bem conduzida, traz um bom resultado econômico para o produtor – explica o engenheiro agrônomo Maximiliano Leonello.

Na área de 40 hectares, César e Daniel possuem 53 viveiros. A água utilizada para encher os tanques vem de duas fontes: uma nascente e um ribeirão próximos à área.

– Um viveiro de 1 mil metros quadrados pronto com água, instalação, licenciamento, tudo, fica por volta de R$ 3 mil R$ 5 mil, dependendo do consultor. São viveiros de 15 a 20 anos de uso, tendo a manutenção periódica, mas o retorno do investimento já vem no segundo ano – conta Maximiliano Leonello.

Nos viveiros dos irmãos Polettini, são cultivadas 35 espécies ornamentais e de consumo, mas o carro chefe ainda é a tilápia. O principal diferencial do local é o laboratório de reprodução natural. 

– Com a maioria das espécies a gente consegue uma desova natural, elas desovam sozinhas nas caixas e a gente só coleta a ova, distribui nas incubadoras onde nascem as larvas, depois trazemos para o berçário, que seria uma segunda fase, para depois mandarmos para o tanque, onde elas crescem e se tornam alevinos – explica o piscicultor Daniel Polettini.

Outro investimento das propriedades tem sido em equipamentos específicos para o manejo adequado dos peixes, desde os alevinos até o recolhimento após a engorda. Quando atingem uma média de um quilo, os peixes estão prontos para serem retirados dos viveiros. Uma dica importante para o produtor é o uso de redes especiais que não têm nós, o que ajuda a manter a qualidade do peixe pois não gera estresse.

Grande parte da produção anual de peixes na região de Mogi Mirim é transportada em caixas especiais a pesqueiros do interior de São Paulo. Os produtores abastecem também a indústria, que está otimista com o crescimento da demanda pelo peixe de água doce no mercado interno.

– Em 2007, eram sete quilos por habitante ano. Hoje já se fala em 11; a média mundial é 16. Então ainda temos muito para crescer. É um segmento que está em expansão e o pescado é uma das proteínas que o pessoal tem colocado no prato no dia-a-dia – afirma o proprietário do Interposto Pescados, Eduardo Carinta.

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